13 abril 2006

Brasil assina acordo de TV digital com Japão

Por Renato Cruz
em Estadão.com.br
13 abril 2006

As emissoras de TV venceram a guerra da TV digital. Na última quarta-feira à noite, o ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, assinou em Tóquio, com o chanceler japonês Taro Aso, um memorando de entendimento para instalação no Brasil de um sistema de TV digital baseado no padrão japonês ISDB. Agora, só falta o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ratificar a escolha. O que deve acontecer em breve, já que ele dificilmente iria contrariar os radiodifusores em ano eleitoral. As redes de TV fizeram campanha pelo ISDB.

"Nossa missão está cumprida", afirmou o ministro das Comunicações, Hélio Costa. Em visita à emissora estatal japonesa NHK, Costa ressaltou sua trajetória de homem de televisão. Ele assumiu a pasta com o objetivo de garantir a transição do rádio e da televisão brasileira para a tecnologia digital com o mínimo de impacto possível no modelo atual de negócios. Acionista de uma rádio em Barbacena (MG), sua cidade natal, Costa foi repórter do programa Fantástico e chefe da sucursal da Rede Globo nos Estados Unidos, antes de ingressar na política.


SEMICONDUTORES

O memorando não garante a instalação de uma fábrica de semicondutores no Brasil, uma das principais demandas. O documento diz que "o governo japonês valoriza as empresas japonesas que cooperem com nos vários estudos para a modernização das indústrias relacionadas a serem feitos pelo Brasil, e estudem a possibilidade investimentos futuros na indústria eletroeletrônica, incluindo a indústria de semicondutores e correlatos e cooperação na capacitação de recursos humanos".


NOVAS INSTALAÇÕES

Apesar disso, o governo está animado. "Seja mais otimista", sugeriu Costa à imprensa, ao ser questionado sobre a fábrica. "A versão assinada do documento foi a quinta, e está muito mais objetiva do que as anteriores." Segundo ele, a Toshiba enviará ao Brasil, em duas semanas, uma equipe técnica para trabalhar no projeto de viabilização da indústria de semicondutores. Técnicos do governo destacaram que a sul-coreana Samsung também estaria interessada em instalar uma unidade fabril no Brasil, logo depois dos japoneses.

Os representantes dos dois países ficaram trabalhando no documento até as 6 horas da manhã de da última quarta. Os integrantes da comitiva consideram que todas as demandas brasileiras foram atendidas naquilo que alguns chamaram, em tom de brincadeira, de "a batalha de Tóquio". O memorando prevê a absorção de tecnologia desenvolvida no Brasil pelo padrão ISDB, a participação brasileira no consórcio responsável pela tecnologia, a criação de um centro e desenvolvimento brasileiro, a dispensa de pagamento de royalties e o financiamento, pelo Japan Bank for International Cooperation (JBIC), da transição dos radiodifusores brasileiros para o sistema digital.

O memorando confirmou a escolha do padrão japonês pelo Brasil, apesar de não dizê-lo textualmente. "Tudo está encaminhado neste sentido, a menos que ocorra algum desastre", afirmou Amorim. O chanceler brasileiro afirmou que a instalação de uma fábrica de semicondutores japonesa no País é "muito viável", mas que não havia como o governo do Japão firmar compromisso sobre uma decisão da iniciativa privada.

O documento trata da escolha como uma decisão ainda a ser tomada, para não passar por cima do presidente Lula. "O Brasil vem estudando favoravelmente a implementação do Sistema Brasileiro de Televisão Digital com base no padrão ISDB-T", diz o memorando. "Caso esta opção venha a ser adotada, este memorando terá como objetivo essa implementação e a construção das bases para a viabilização e o desenvolvimento conjunto da respectiva plataforma industrial eletroeletrônica brasileira."