27 junho 2006

Modelo japonês de TV digital será implantado no Brasil

Por Gerusa Marques
em O Estado de S. Paulo
24 junho 2006

Depois de seis meses de negociações, Brasil e Japão chegaram a um acordo sobre o Termo de Compromisso a ser firmado entre os dois países para implantação do padrão japonês de TV digital no Brasil. O anúncio oficial está previsto para a quinta-feira, dia 29, quando serão assinados, em cerimônia no Palácio do Planalto, o texto desse acordo e o decreto presidencial com as regras de transição do sistema analógico para o digital.

A decisão do governo em favor do padrão japonês representa uma vitória do ministro das Comunicações, Hélio Costa, que se empenhou pessoalmente para emplacar a tecnologia japonesa. Também agrada às emissoras de televisão, que terão preservado o seu atual modelo de negócios.

O governo vinha estudando também os padrões europeu e americano, mas nos últimos três meses as negociações convergiram para o padrão japonês. A tendência se tornou mais evidente com a ida à Tóquio, em abril, de uma delegação de ministros brasileiros, quando foi assinado entre os dois lados um memorando de entendimentos, detalhado agora no Termo de Compromisso.


INOVAÇÕES

"É um excelente acordo", avaliou o ministro das Comunicações. Segundo ele, o governo brasileiro, por intermédio do Itamaraty, comunicou ontem ao embaixador do Japão no Brasil, Takahiko Horimura, que concordava com os termos do documento elaborado nesta semana por técnicos dos dois governos. Costa confirmou a vinda, no próximo dia 29, do ministro japonês do Interior e da Comunicação, Heizo Takenaka, para assinar o Termo de Compromisso.

Segundo uma fonte do governo, o decreto presidencial, cujo texto será fechado na próxima semana, terá 15 artigos e trará as diretrizes para a implantação do novo sistema. A idéia é de que as emissoras tenham um prazo máximo de 18 meses para iniciar as transmissões em sinal digital.

As empresas já disseram que pretendem começar a operar comercialmente, nas principais capitais, em um prazo de seis meses após a definição do padrão. A transição total para o novo sistema, no entanto, vai levar dez anos.

O acordo acertado com o governo japonês prevê a criação de um sistema nipo-brasileiro, que será uma variação do padrão japonês. Segundo o representante do padrão japonês de TV digital no Brasil, Yasutoshi Miyoshi, o padrão nipo-brasileiro deve incorporar inovações tecnológicas desenvolvidas no Brasil, mas ainda serão realizados estudos técnicos sobre a viabilidade dessas tecnologias. "Vamos avaliar todas as inovações que o Brasil deseja adotar", afirmou Miyoshi, citando, por exemplo, o sistema de compressão de sinais de vídeo MPEG 4. "O que for bom para o Brasil, para a população e economicamente viável, será incorporado", disse.

Serão criados grupos técnicos de trabalho, dos dois lados, que serão formados em até quatro semanas após o anúncio do padrão, para dar prosseguimento aos estudos em relação às inovações no sistema. Ainda não está definido se o padrão nipo-brasileiro será registrado como Sistema Brasileiro de TV Digital (SBTVD) ou se será criado um novo nome. A idéia do governo é trabalhar para que o padrão nipo-brasileiro seja implantado em outros países da América Latina.


FINANCIAMENTO

Os japoneses assumiram, além disso, o compromisso de tornar disponível uma linha de financiamento pelo Japan Bank for International Cooperation (JBIC), o banco de fomentos japonês. Ainda serão detalhados valores do financiamento, mas a estimativa de fontes do governo é de que os recursos sejam da ordem de US$ 500 milhões, que serão destinados às emissoras de TV. O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) financiará a indústria nacional.

Também está certo que o Japão dará apoio para o desenvolvimento da indústria de semicondutores no Brasil e para a modernização da indústria eletroeletrônica. O Termo de Compromisso, que foi elaborado em inglês, tem um tom diplomático e não abordará aspectos mais técnicos.

Web promete grande aumento do acervo de raridades da MPB

Por Raquel Cozer
em Folha Online
23 junho 2006

Raridades da música popular brasileira que pareciam prestes a se perder em meio a pilhas de discos antigos vêm se tornando acessíveis na internet desde que, há alguns anos, instituições como o Instituto Moreira Salles (IMS) e o Centro Cultural São Paulo (CCSP) começaram a digitalizar e a colocar acervos sonoros em seus sites.

Hoje, com mais de 30 mil fonogramas on-line, o Brasil está entre os países com maior catálogo musical histórico na internet. "É o maior do mundo no que diz respeito à música popular de massa. Outros países, como os Estados Unidos, a Alemanha, e a Áustria, têm grandes catálogos, mas privilegiam a música étnica e a erudita", diz Evaldo Piccino, coordenador de música do CCSP.

Pois o conjunto de obras disponíveis está para aumentar --e bastante-- no próximo semestre. Em agosto, o Instituto Moreira Salles (IMS), que tem o maior catálogo on-line do país de músicas em 78 rotações por minuto, começará a colocar no ar 70 mil gravações lançadas em LP a partir dos anos 60. No mesmo mês, a Biblioteca Nacional deve terminar a digitalização de 8.000 fonogramas de seu acervo em 78 rpm, para posterior publicação na internet. Antes disso, a Funarte pretende estrear sua rádio virtual, com material de seu acervo que foi recuperado e preservado com o apoio da Petrobras. O Centro Cultural São Paulo optou por disponibilizar em programas de sua webradio, aos poucos, os 30 mil fonogramas digitalizados de que dispõe.

As gravações que entrarão no site do IMS incluem os primeiros LPs lançados no país, comprados do historiador José Ramos Tinhorão.

"É uma grande amostra do que se produziu de bossa nova, tropicália e por aí vai. Estarão lá as primeiras gravações de Chico Buarque, o primeiro disco de canções de protesto de Alberto Ribeiro e os primeiros LPs independentes do país, como os de Danilo Caymmi", diz José Luis Herência, coordenador de música do instituto.

O catálogo do instituto que já está on-line inclui outra parte da coleção de Tinhorão e o material adquirido do colecionador carioca Humberto Franceschi. Pelo site, é possível ouvir quase 30 mil fonogramas em 78 rpm, produzidos entre 1902, quando surgiu a música gravada no país, e 1964, com o fim da fabricação desse tipo de disco. O destaque fica para os fonogramas da chamada fase mecânica, anterior a 1927, com raras gravações de gente como Pixinguinha, Orlando Silva e Carmen Miranda.

A recuperação dos fonogramas da Biblioteca Nacional começou em 2004, quando a equipe coordenada por Ana Pavani selecionou 4.000 discos do acervo que preenchessem os critérios do projeto de apoio à música nacional aprovado pela Petrobras.

"Focamos nos discos mais antigos e danificados. O material poderia incluir intérpretes ou compositores brasileiros, não necessariamente os dois ao mesmo tempo", diz Ana.

Graças a isso, foram resgatadas curiosidades como um samba de Ataulfo Alves em japonês e "O Guarani", de Carlos Gomes, em alemão. "Só foi possível saber realmente o que fazia parte do acervo no mês passado, com o fim da descrição arquivista e da conservação".

Com o fim da digitalização dos fonogramas, será necessário pesquisar que músicas estão em domínio público e podem ser colocadas na internet. As restantes ficarão disponíveis somente na sede da instituição, no Rio.

O CCSP lançou sua webradio em junho de 2004. A rádio funciona com servidor da Escola de Comunicações e Artes da USP e está temporariamente fora do ar, devido à greve da universidade. O acervo usado nos programas vem da antiga Discoteca Pública Municipal, atual Discoteca Oneyda Alvarenga, fundada em 1935 por Mário de Andrade, então diretor do Departamento de Cultura de São Paulo.

"Originalmente, o acervo era basicamente de música étnica e erudita. Mas a incorporação da coleção pessoal de Salatiel Coelho, que era do rádio, lhe deu um aspecto mais comercial, com ênfase na fase temporã do 78 rpm, dos anos 50 e 60", diz Evaldo. Entre o material que ainda não foi ao ar, está o single em 78 rpm do álbum "maldito" de Roberto Carlos, o renegado "Louco por Você", que ficou fora da coleção de caixas de CD do cantor, lançada a partir de 2004.

Há outros projetos no país envolvendo a digitalização de fonogramas raros. Um deles é o do colecionador cearense Miguel Ângelo de Azevedo, o Nirez, 73, que conseguiu R$ 265 mil da Petrobras para digitalizar seu acervo, com o apoio do Museu da Imagem e do Som do Ceará (MIS-CE). Nirez reuniu, desde os 20 anos de idade, 22 mil discos de 78 rpm.

Carimbo do tempo dá validade jurídica a documentos e e-mail

Por Alexandre Barbosa
em Estadao.com.br
27 junho 2006

A idéia por trás dos certificados digitais é simples: uma tecnologia de assinatura eletrônica que permita a duas partes interagirem pela internet e trocarem documentos tendo a garantia da integridade da mensagem, ou seja, que ela não foi alterada desde a sua criação; e de origem.

Isso é o suficiente para que empresas, organizações e usuários finais possam começar a assinar livremente os contratos pela internet, certo? Depende. Os certificados têm limitações, como prazos de validade. E, principalmente no que diz respeito a contratos entre empresas, só a assinatura digital não basta para trazer a segurança desejada.

Foi esta necessidade que motivou Marcos Nader a criar o Comprova. O site, homônimo do serviço, emite o chamado ´carimbo do Tempo´. É uma camada adicional de informação que pode ser adicionada no envio de uma mensagem ou no fechamento de um contrato e que garante que aquela transação aconteceu numa determinada data e hora.

"Nós criamos uma plataforma que atua em sincronia com o relógio atômico do observatório nacional e que dá uma eficácia de prova, ou seja, a validade jurídica à transação", diz Nader. Entre os clientes da empresas estão bancos, seguradoras, construtoras e escritórios de advocacia.


GARANTIAS

"O uso de ferramentas como o carimbo eletrônico confere uma segurança adicional ao uso de contratos assinados eletronicamente", diz Renato Opice Blum, da Opice Blum Advogados . Segundo ele, a presunção da autenticidade no documento foi um acional importante para que pessoas e empresas passassem a fazer transações via internet, mas que a disponibilidade do carimbo do tempo conferiu a certeza do fato jurídico para contratos, por exemplo.

"Pode parecer preciosismo jurídico, mas nenhuma ressalva é pouca quando um contrato entre duas empresas envolve transações milionárias. E qualquer garantia adicional que evite um contencioso é importante para as organizações", acrescenta Nader.

Além de conferir o carimbo do tempo em documentos assinados digitalmente, a empresa também dispõe de um serviço similar que pode ser aplicado a mensagens de e-mail. "O chamado ´e-mail Comprova´ aplica um carimbo do tempo a uma mensagem de correio eletrônico. Ela garante que aquela mensagem foi enviada e recebida, com integridade numa determinada data e hora", diz Nader.

De acordo com o executivo, esse tipo de transação, mais barata, é usada em notificações. Um e-mail emitido pelo serviço pode custar entre R$ 0,50 e R$ 3,90, caso o usuário não queira que o serviço guarde uma cópia da mensagem ou que haja um backup daquela informação. Atualmente, o serviço trafega cerca de 3 mil mensagens diárias. O uso é muito simples: basta adicionar ´.comprova.com´ ao endereço de e-mail do destinatário para que o serviço seja acionado.

Uma construtora em São Paulo, por exemplo, usa o sistema para comprovar o envio de propostas por e-mail. "Este sistema alia a segurança jurídica à rapidez da comunicação eletrônica. Muitos clientes nossos estão preferindo este novo meio ao envio de cartas registradas, a R$ 8,00 a unidade. Só a corretora Socopa consegui baixar em 70% os custos de envio de documentos com essa tecnologia", finaliza Nader.

Rádiobras libera conteúdo online

em O Estado de S. Paulo
26 junho 2006

Na abertura do evento iSummit, no Rio de Janeiro, a Fundação Getúlio Vargas anunciou que a Radiobrás vai colocar na internet todo o seu acervo de vídeos e gravações, que inclui o programa "A Voz do Brasil". O material será liberado no esquema de licenciamento Creative Commons, ou seja, poderá ser reutilizado em trabalhos comerciais. O site, cujo endereço é www.agenciabrasil.gov.br, será relançado no dia 3 de julho.

EUA cria leitor de textos para deficientes visuais

Por Associated Press
em O Estado de S. Paulo
26 junho 2006

Um dispositivo de mão que converte texto impresso em som será apresentado hoje nos Estados Unidos pela Federação Nacional dos Deficientes Visuais. Desenvolvido pelo inventor Ray Kurzweil e pela entidade, o aparelho portátil combina um assistente pessoal de dados a uma câmera digital. O texto, de cardápios a trechos de jornal, é fotografado e, segundos depois, convertido para arquivo de áudio. O leitor vai custar cerca de US$ 3.500. Para James Gashel, diretor-executivo da federação, trata-se da maior novidade tecnológica para deficientes visuais dos últimos 30 anos.

Guita Mindlin, amiga dos livros, morre aos 89 anos

Por Beth Néspoli
em O Estado de S. Paulo
26 junho 2006

Depois de 70 anos de vida em comum, o empresário José Mindlin perdeu sua esposa Guita Mindlin, que morreu às 5h50 da manhã de ontem no Hospital Albert Einstein, de falência múltipla de órgãos, aos 89 anos. O corpo foi velado no próprio hospital e o enterro foi realizado ontem mesmo, no Cemitério Israelita de Vila Mariana.

Guita completaria 90 anos no dia 2 de agosto. Nascida em 1916, tinha 20 anos quando conheceu seu futuro esposo na Faculdade de Direito do Largo de São Francisco, ela caloura, ele formando. Dois anos depois, casaram-se. Formou-se em Direito em 1940, mas já então compartilhava com o marido a paixão pelos livros. Acabou se dedicando à preservação e restauração dos milhares de volumes que o casal adquiriu ao longo da vida."Ela sempre encorajou minhas extravagâncias na compra de livros, mesmo que isso significasse sacrifício doméstico", declarou Mindlin em entrevista na década de 80.

Guita especializou-se em encadernação e restauro. Na década de 70, em parceria com o Instituto de Pesquisas Tecnológicas, chegou a desenvolver uma máquina de reconstituir papel. Fundou ainda a Sociedade Brasileira de Encardenação e Restauro (SBE), apoiada pela Escola Theobaldo Nigris, entidade que formou na arte do restauro de livros 150 alunos em apenas cinco anos.

Debret e fotos roubados do arquivo geral do Rio

Por Clarissa Thomé
em O Estado de S. Paulo
22 junho 2006

Cerca de mil fotografias de Augusto Malta, toda a coleção de gravuras de Debret, 146 estudos do pintor Lucílio de Albuquerque, mapas, revistas e cartões postais foram levados do Arquivo Geral da Cidade, no centro do Rio. O material roubado dava para encher um caminhão, segundo o delegado federal Deuler Rocha, que investiga o furto, possivelmente cometido no feriado de Corpus Christi.

Os criminosos não arrombaram nenhuma das sete portas no trajeto até o acervo. O prédio não tem sistema de segurança e apenas três vigias, em turnos de 12 horas, cuidam do local.

A Polícia Federal pediu a lista dos pesquisadores que estiveram no arquivo nos últimos oito meses para tentar identificar possíveis mandantes. Esses nomes serão comparados com os de visitantes do Museu da Chácara do Céu, da Biblioteca Nacional e do Museu da Cidade, que também tiveram peças roubadas no último ano.

O sumiço dos bens foi notado na segunda-feira, quando uma foto de Malta não foi localizada. A diretora Beatriz Kushnir determinou uma varredura geral. Perceberam, então, a falta de 18 imagens de Augusto Malta, o fotógrafo oficial da prefeitura entre 1906 e 1936, exemplares da Revista Ilustrada, Revista da Semana e da revista Dom Quixote.

Por determinação da PF, as salas que guardam os bens foram lacradas. Na terça-feira, seis peritos passaram o dia recolhendo impressões digitais e fotografando a área do roubo. Ontem, após as salas serem reabertas para os funcionários, foi constatado o desaparecimento dos demais itens. "O valor é inestimável. As fotos, por exemplo, reconstituem o Rio do início do século 20", disse Beatriz.

Foram roubadas obras do segundo andar (iconografia) e terceiro (biblioteca). Nada simples de esconder. Os estudos do pintor Lucílio de Albuquerque, de 1940 a 1950, estavam em caixas de 1 metro de comprimento. Havia 87 pranchas de Jean-Baptiste Debret, reproduções de uma edição limitada a partir da coleção dos Museus Castro Maya, e 38 estereoscópios (técnica do século 19 em que duas imagens são colocadas lado a lado, criando visão em terceira dimensão).

Do acervo de 15 mil fotos de Malta, foram levados 19 álbuns. Segundo a PF, eram cerca de mil imagens. As fotos são assinadas e têm carimbo do arquivo ou anotações a lápis 6B, que deixam marcas, se apagadas. As imagens dos bens estão no site www.rio.rj.gov.br/culturas.

A diretora fez um apelo para que leiloeiros e colecionadores não negociem as obras. O assalto ocorreu 40 dias antes da instalação de um novo sistema de segurança.

Passado e futuro em perigo

Por Xico Vargas
em no mínimo
24 junho 2006

Pressionada por historiadores e pesquisadores a Associação Nacional de História começa a se mexer para responsabilizar o poder público pelo progressivo desaparecimento de valiosas peças e documentos de arquivos e museus da cidade.

O professor Luciano Figueiredo, autor da iniciativa, está indignado com o desaparecimento das fotos de Augusto Malta do Arquivo Geral da Cidade. “É degradante”, indigna-se. “Se soma às pilhagens ocorridas na Biblioteca Nacional de fotos (também únicas) de Stahl, Ferrez, etc, de mapas setecentistas e códices do acervo do Arquivo do Itamaraty, de armas do século XVIII e XIX do Museu da Cidade, de livros raros e documentos da Biblioteca do Museu Nacional, peças sacras da Cúria, os quadros da Chacara do Céu. Isto transcorreu em menos de 3 anos! E sabe-se lá o que mais que não foi noticiado”.

O Estado é omisso na preservação de bens dos cidadãos, acusa Figueiredo. Ele acredita que há não apenas um aquadrilha muito bem organizada e inteligente, mas também um projeto de continuidade nesse tipo de crime. “Chamem os franceses: os bois, caixas de açúcar e ouro que Duguay-Trouin e seus corsários levaram em 1711 na grande invasão custaram menos à cidade”.

A rigor, é pouco provável que o poder público aprenda a cuidar da História. Prestando-se atenção à maneira como o país trata os seus velhos dá para perceber a importância que damos ao passado. Da mesma forma, o cuidado que temos em relação às crianças mostra o tipo de país que se está construindo.

22 junho 2006

O fim da revista Primeira Leitura

Por Luiz Antonio Magalhães
em Observatório da Imprensa
20 junho 2006

Os jornalistas Reinaldo Azevedo e Rui Nogueira anunciaram, na segunda-feira (19/6), o encerramento do site e da revista Primeira Leitura. Segundo a informação divulgada em uma nota que permanecerá no site por algum tempo, o PL fecha as portas por falta de suporte financeiro para a sua operação.

A revista Primeira Leitura nasceu em 2000, capitaneada pelo economista e ex-ministro das Comunicações Luiz Carlos Mendonça de Barros. Até a posse de Lula na presidência da República, revista e site faziam críticas ácidas ao que qualificavam de "malanismo" – a política econômica que prevaleceu sem contestações internas no final do governo Fernando Henrique Cardoso, ao qual Mendonça de Barros servira como ministro. Durante a campanha eleitoral de 2002, Primeira Leitura assumiu a preferência pela candidatura de José Serra à presidência da República, mas apresentou discordância com parte da estratégia adotada na campanha. Desde a posse de Lula, site e revista vinham se dedicando a criticar, sempre com eloqüência, o mandato do presidente petista. A violência da crítica, porém, se limitava ao campo das idéias: não foram poucas as vezes que os jornalistas do Primeira Leitura "advertiram" sobre a inteligência de Lula e a precariedade das idéias de muitos dos "quadros" envolvidos na campanha do tucano Geraldo Alckmin.

Em 2004, Mendonça de Barros decidiu deixar o projeto e o Primeira Leitura passou para o comando dos jornalistas Rui Nogueira e Reinaldo Azevedo. Há quem tenha visto nesta mudança o marco de uma guinada do site e revista à direita, com o aprofundamento das críticas ao governo Lula, ao Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra e à esquerda em geral.

O jornalista Reinaldo Azevedo esteve desde o início do Primeira Leitura e era a alma do projeto. Católico, conservador e independente, Azevedo chegou a expor publicamente as divergências com o então acionista Mendonça de Barros. Seus textos opinativos, publicados com freqüência quase diária na seção Entenda do site, eram um bom guia não apenas para os conservadores, mas também para esquerdistas curiosos para saber em detalhes os argumentos de seus adversários. Ali também não faltou "fogo amigo" contra o ex-governador e presidenciável Geraldo Alckmin: Azevedo se posicionou favoravelmente à candidatura de José Serra à presidência por julgá-lo mais apto a bater o presidente Lula nas urnas.

Um panorama da observação crítica da mídia

Por Viviane Erazo
em Observatório da Imprensa
20 junho 2006

O Observatorio de Medios FUCATEL, com sede em Santiago do Chile, é um centro de estudos independentes cujo principal objetivo é a reflexão sobre as transformações sociais e o impacto público dos meios de comunicação nas modernas sociedades democráticas. Recentemente a entidade produziu um estudo intitulado "Panorama de la observacion critica de los medios de comunicación en America Latina", conduzido pela pesquisadora Viviana Erazo. Trata-se de uma investigação de fundo sobre iniciativas similares a este Observatório em funcionamento na América Latina. Na apresentação de seu trabalho, escreveu Viviana:

"Os meios de comunicação estão vivendo uma situação de crise que se manifesta na distância entre a informação oferecida e as demandas e expectativas da sociedade; na representação dos problemas por ela vividos; na invisibilidade de temas e atores ou legitimação de outros; nos modelos de construção de informação do jornalismo e dos meios; nos escassos mecanismos de controle e de auto-regulação; e na insuficiência de códigos de conduta explícitos que permitam a exigência de seu cumprimento por parte da opinião pública.

Diante desse cenário, acentuam-se as demandas da cidadania sobre a informação e os meios de comunicação e emergem instâncias a partir da sociedade civil que lançam um olhar crítico sobre os veículos e deles exigem um acerto de contas. Os observatórios, as veedurías, as defensorias do leitor, das audiências e dos telespectadores, assim como diversas outras iniciativas de vigilância dos meios instalaram-se na Europa e na América do Norte ao longo das últimas décadas. No último lustro, sugiram na América Latina experiências similares, geralmente vinculadas a movimentos de democratização social e que constituem espaços de expressão cidadã.

Dada a importância da observação e vigilância dos meios como estratégia válida de crítica e de intervenção com vistas à democratização das comunicações, à formação de receptores(as) conscientes e informados(as) e ao exercício da cidadania, pareceu-nos imprescindível produzir um estudo sobre as estratégias e resultados obtidos nesse sentido."

O resultado do estudo de Viviana Erazo, que teve Oliver Schmitt com assistente de pesquisa, pode ser baixado aqui, em espanhol – arquivo word, 1.074 KB.

Wikipedia começa a restringir edição de certos verbetes

em IDG Now!
19 junho 2006

Nem sempre a voz do povo é a voz de Deus e por isso a Wikipedia, enciclopédia virtual alimentada por artigos da comunidade de internautas cadastrados no site, começa a adotar medidas de restrição que colocam fim a festejada lógica do "todo mundo pode editar".

Em matéria recente do The New York Times foi revelado que a enciclopédia open source dá liberdade a um número limitado de administradores de exercer controle editorial. Ou seja, eles podem deletar artigos indesejáveis e proteger assuntos que geram discórdia entre a comunidade virtual e que são propícios ao "vandalismo". Os artigos sobre Einstein e sobre a cantora Cristina Aguilera são alguns dos últimos exemplos de textos que tiveram sua porta de edição fechada. Isso aconteceu após repetidas revisões parciais que disputavam o que deveria ser dito sobre as personalidades. Junto a eles, outros 179 assuntos tiveram a livre edição bloqueada.

Entretanto, o impedimento não é total, já que usuários que estão registrados na Wikipedia por ao menos quatro dias continuam tendo livre acesso à ferramenta. A medida visa a atingir os usuários que querem somente vandalizar. Fundador da Wikipedia, Jimmy Wales disse a reportagem do The New York Times que a política de restrição se estende a uma pequena fração de artigos do total de 1,2 milhões de textos na língua inglesa da enciclopédia, que também conta com acervos menores em outras línguas. Ele afirma que a idéia é promover a apresentação da informação com um ponto de vista neutro.

Ao contrário do que se pensa, a comunidade de admnistradores do site, espécie de editores voluntários, é formada por um grupo de apenas mil usuários em média. Distribuídos geograficamente pelo globo, esses editores virtuais em geral estão na casa dos 20 anos. Eles se comunicam por salas de bate-papo, páginas de conversa ligadas à cada entrada na enciclopédia e através de grupos de e-mails. Sua função é compartilhar a missão de fiscal contra o vandalismo virtual. Softwares customizados, criados por eles próprios, colaboram na tarefa de monitoramento das mudanças realizadas nos artigos.

A proteção está sendo adotada desde o início do ano. Em janeiro, por exemplo, um artigo sobre Bill Gates entrou pro grupo dos protegidos, sendo liberado poucos dias após o fim da onda de tentativas de entradas mal-intencionadas. Contundo, textos como o que descreve o presidente norte-americano George W. Bush continua com edição limitada por tempo indeterminado. A medida é em sua grande maioria temporária. Funciona como um intervalo de tempo para que termine a onda de vandalismo ou para que os usuários entrem em acordo sobre um determinado assunto. Consenso que pode ser alcançado através do próprio espaço para discussão que o site oferece em cada artigo.

Segundo dados do Nielsen/NetRatings apurados pela reportagem do The New York Times, a Wikipedia é o terceiro site de informações e notícias mais pesquisado da internet, ficando na frente de portais como o da CNN e do Yahoo News. A discussão acerca da exatidão dos artigos da Wikipedia não é nova. No ano passado uma matéria da publicação especializada em pesquisa e ciência Nature concluiu que o número de erros da enciclopédia virtual era pouco superior a da tradicional Enciclopédia Britânica, que questionou os resultados veementemente.

Comissão pede livre acesso à Internet em Cuba

em Folha Online
20 junho 2006

O gabinete do relator especial para a liberdade de expressão da CIDH (Comissão Interamericana de Direitos Humanos) pediu ao governo de Cuba para rever as restrições legislativas do acesso à internet imposto à população. "A CIDH tomou conhecimento do estado crítico de saúde em que se encontra o diretor da agência de notícias Cubanacán Press, Guillermo Fariñas, em greve de fome desde 31 de janeiro de 2006 para protestar contra a restrição ao acesso à internet em Cuba", afirma um comunicado do órgão.

"O acesso à rede tem a capacidade de fortalecer os sistemas democráticos e o pleno exercício da liberdade de expressão e contribuir com o desenvolvimento econômico dos países da região", continuou. O comunicado informa também que "o gabinete observa com preocupação que as leis em Cuba restringem severamente o acesso da população à internet". A CIDH recomendou ao governo cubano mudanças na legislação. A Declaração de Princípios sobre Liberdade de Expressão da CIDH estabelece que "todas as pessoas devem contar com igualdade de oportunidades para receber, buscar e oferecer informação por qualquer meio de comunicação".

Prazo de transição para TV digital pode ser de até 10 anos

Por Gerusa Marques
em Estadão.com.br
21 junho 2006

O governo quer a transição completa do sistema de TV analógica para o de TV digital seja feita num prazo de dez anos. Esse prazo foi definido, em reunião realizada no Palácio do Planalto entre os ministros da Casa Civil, Dilma Rousseff, e das Comunicações, Hélio Costa, e diretores das emissoras de TV.

O presidente da TV Bandeirantes, João Carlos Saad, disse, ao sair da reunião, que as emissoras estão prontas para começar a transmitir em sinal digital no prazo de seis meses após a definição, pelo governo, do padrão de TV digital a ser adotado no País e das tecnologias brasileiras que serão incorporadas ao novo sistema. Ele informou que os ministros não marcaram, ainda, uma data para o anúncio do padrão a ser adotado. A expectativa, segundo fontes que participam ds discussões em torno do assunto, é que isso aconteça dia 29, quando chega ao Brasil o ministro do Interior e da Comunicação do Japão, Heizo Tanekaka.

O diretor-executivo do SBT, Guilherme Stoliar, disse que as empresas precisam trocar 5.000 transmissores dos sinais de televisão que, dependendo da potência, poderão custar de US$ 50 mil a US$ 50 milhões, cada um. No Brasil, segundo ele, existem 50 milhões de lares com televisões e, ao todo, 70 milhões de aparelhos de TV.

O prazo de seis meses para as empresas se adaptarem ao novo sistema é uma estimativa apenas para as emissoras de TV. Para que a população possa assistir TV pelo sistema digital, o prazo dependerá da fabricação de televisores digitais ou aparelhos conversores de sinais digitais em analógicos. A idéia das emissoras é começarem a transmissão inicialmente nas capitais. Os executivos não deram números sobre o volume necessário de investimentos, mas, segundo fontes do governo, o banco japonês JBIC tem uma linha de crédito de US$ 500 milhões para financiar as emissoras brasileiras.

The Guardian terá novo jornal a cada 15 minutos

Por Alexandre Barbosa
em Estadão.com.br
21 junho 2006

Jornais de todo o mundo enfrentam o problema da perda de leitores para os meios digitais, como a internet ou os boletins informativos por telefones celulares. Em busca de novas formas de interagir com o seu público o jornal inglês de The Guardian anunciou que lançará um novo formato de boletim informativo, que será atualizado a cada quinze minutos, com notícias gerais e das editorias de economia, esportes e mundo.

O ´jornal´ será o mais tempo possível da notícias em tempo real e usará as matérias produzidas para o site do Guardian, ficando disponível num arquivo PDF, que poderá ser baixado e impresso em papel. O projeto foi chamado de G24 e deve ser lançado até o final do próximo mês, e a expectativa do Guardian é conquistar o leitor que está saindo para o almoço ou que quer se informar ao final do dia de trabalho. "Queremos tornar o conteúdo do Guardian mais disponível em uma variedade de formatos ao longo do dia", disse Carolyn McCall, diretora executiva da editora Guardian.


MUDANÇA OPERACIONAL

Na semana passada, o jornal havia anunciado uma nova política para a publicação de notícias, que privilegia a publicação na Web de matérias das editorias de negócios e internacional. Segundo o periódico, a decisão deve dar aos repórteres a oportunidade de produzir materiais de maior impacto sem as limitações da versão diária no papel.

Lei brasileira "garante" neutralidade na Internet

Por Renato Cruz
em O Estado de S. Paulo
18 junho 2006

As regras brasileiras para o setor de telecomunicações prevêem isonomia de tratamento para os usuários e para prestadores de serviço de valor adicionado, como as empresas de internet. Isso não quer dizer que todos recebem a mesma condição de serviço. O cliente residencial que contrata uma banda larga mais rápida recebe a banda larga mais rápida. No entanto, a operadora é proibida de limitar a qualidade superior de serviço a um usuário ou um grupo de usuários. A oferta comercial vale para todos.

O mesmo acontece com as empresas de internet que dependem de sua rede, que não podem ter vantagens exclusivas mesmo que sejam parceiras comerciais ou pertençam a um só grupo econômico. "Apesar de o assunto ser bastante discutido nos Estados Unidos, ainda não houve nem um início de discussão por aqui", afirmou Guilherme Ieno Costa, advogado especialista em telecomunicações. "Numa primeira análise, as empresas de internet teriam garantia legal de tratamento isonômico."

O artigo 61 da Lei Geral de Telecomunicações, de 1997, equipara o provedor de serviço de valor adicionado, como as empresas de internet, a um usuário: "Serviço de valor adicionado não constitui serviço de telecomunicações, classificando-se seu provedor como usuário do serviço de telecomunicações que lhe dá suporte, com os direitos e os deveres inerentes a essa condição".

Em seu artigo 3.º, a mesma lei enumera, entre os direitos dos usuários (e, portanto, das empresas de internet), o "acesso aos serviços de telecomunicações, com padrões de qualidade e regularidade adequados à sua natureza, em qualquer ponto do território nacional" e "não ser discriminado quanto às condições de acesso e fruição do serviço".

"Um conceito básico é que a camada de baixo (rede) não tem de se importar com a camada de cima (conteúdo)", afirmou Demi Getschko, conselheiro do Comitê Gestor da Internet no Brasil . "As operadoras de telefonia, por exemplo, não entram em detalhes do que está sendo conversado nas ligações."

A Associação Brasileira de Concessionárias de Serviço Telefônico Fixo Comutado (Abrafix), que reúne as grandes operadoras fixas brasileiras, preferiu não se pronunciar sobre o assunto, por não ter ainda opinião formada. No entanto, empresas que prestam o serviço de voz sobre IP (sigla em inglês de protocolo de internet) já começam a reclamar que algumas dessas empresas mexem na configuração de suas redes e dificultam as chamadas telefônicas via banda larga.

"Essa é uma questão que precisa fazer parte dos novos marcos regulatórios", afirmou o diretor-executivo da Associação Brasileira de TV por Assinatura (ABTA), Alexandre Annenberg. "São necessários um regulamento claro e uma agência regulatória forte. Eu não tenho percebido por parte das empresas um posicionamento claro. Existem grandes dúvidas sobre o modelo de negócio e sobre perspectivas de novas fontes de receitas e novos serviços."

As operadoras de telefonia fixa enfrentam estagnação em seu serviço principal, enquanto a banda larga cresce rapidamente. No Brasil, elas fecharam 2005 com 39,6 milhões de linhas em serviço, o mesmo número do ano anterior. De outra parte, a banda larga com tecnologia ADSL, oferecida pelas teles, aumentou 64,2%, passando de 1,883 milhão de clientes em 2004 para 3,092 milhões, segundo o site Teleco.

O panorama na TV paga não é muito diferente. O total de assinantes cresceu 8,8% ano passado, para 4,101 milhões. O número de clientes de internet via cabo subiu 71,4% no mesmo período, atingindo 629 mil.

O fim da neutralidade, para as operadoras, seria uma forma de rentabilizar o avanço da banda larga, compensando a paradeira na atividade principal, e de se defender do crescimento da telefonia e do vídeo na internet. Em detrimento do usuário.

Inclusão digital ganha portal

em Agência FAPESP
19 junho 2006

Informações sobre as mais recentes iniciativas desenvolvidas em inclusão digital pelos órgãos governamentais estão reunidas em um novo serviço na internet. O Portal de Inclusão Digital, lançado pelo governo federal no último dia 6, traz notícias, documentos, dados sobre programas espalhados pelo país. Também estão disponíveis serviços de governo eletrônico focados para usuários de telecentros. A iniciativa é do Comitê Técnico de Inclusão Digital do Comitê Executivo de Governo Eletrônico. O site é gerenciado pelo Ministério do Planejamento , por meio da Secretaria de Logística e Tecnologia da Informação (SLTI).

Segundo o secretário-adjunto da SLTI e coordenador do Comitê de Inclusão Digital, Rodrigo Assumpção, a idéia é suprir a grande demanda de diferentes setores da sociedade e do governo para a disponibilização de informações e documentos na área. "O portal sistematiza tais informações, permite a troca de experiências, o estudo e a comparação das iniciativas em andamento e, de posse desses dados, a tomada de decisões por parte dos agentes públicos e da sociedade", disse.

Segundo os responsáveis pelo novo serviço, em uma segunda etapa serão integrados os dados do Observatório Nacional de Inclusão Digital (Onid), que está realizando o cadastro de telecentros, centros de inclusão digital, infocentros ou outros espaços coletivos sem fins comerciais de uso de tecnologia digitais conectados à internet.

Seguro contra roubo

Por Fabrício Marques
em Revista Pesquisa FAPESP
junho 2006

Escritórios de registros de marcas e patentes de diversos países receberão um software com uma lista de 3 mil nomes científicos de espécies vegetais tradicionais do Brasil, como cacau, pinhão, umbu, cajá, cupuaçu, maracujá, açaí, acácia, araucária, macela-da-terra e canela-de-cheiro. O objetivo é evitar registros de marcas de produtos típicos brasileiros por empresas de má-fé, que bloqueiem o acesso do país a mercados internacionais. A lista é resultado de dois anos de trabalho do Grupo Interministerial de Propriedade Intelectual (Gipi), que reuniu representantes de oito ministérios. A idéia de criar um índice de espécies nacionais surgiu após uma batalha judicial travada pelo governo brasileiro contra a empresa nipônica Asahi Foods, que conseguira registrar a marca cupuaçu e bloquear a venda de produtos brasileiros feitos com a fruta tropical de sabor exótico nos mercados do Japão, dos Estados Unidos e da Europa. Quem quisesse usar o nome teria de pagar um pedágio à companhia japonesa. Uma parceria entre a diplomacia brasileira e organizações ambientalistas conseguiu cancelar o registro na Justiça japonesa, mas o caso mostrou a necessidade de prevenir novas investidas.

De posse da lista de 3 mil nomes, os escritórios de marcas poderão saber se há apropriação de nomes comuns associados à biodiversidade existente no Brasil quando um pedido for requerido. "Todas as legislações de marcas respeitam nomes naturais ou palavras comuns como não sendo registráveis como marca naquelas categorias a que elas se referem. Não se trata de uma inovação na legislação, mas de uma informação adicional para permitir que o exame do registro seja bem executado", afirma Roberto Jaguaribe, presidente do Instituto Nacional da Propriedade Industrial (INPI). "O interesse é mútuo. Nós queremos evitar que mercados se fechem para os nossos produtos. Já os escritórios têm como missão impedir que seus consumidores sejam obrigados a comprar produtos de empresas que obtiveram exclusividade abusiva de um direito", diz. A relação também será encaminhada a organismos internacionais como a Organização Mundial de Propriedade Intelectual (Ompi) e a Organização Mundial do Comércio (OMC).

A lista do Gipi foi apresentada em 22 de maio, o dia mundial da biodiversidade, mas seus efeitos vinculam-se mais ao respeito à propriedade industrial do que à prevenção da biopirataria. A relação de nomes se limita a espécies vegetais, que efetivamente têm valor comercial. "Em casos de espécies animais, o valor comercial dos nomes é reduzido ou insignificante", diz Roberto Jaguaribe. Uma análise da lista mostra que seu conceito de biodiversidade brasileira é elástico. Lá constam nomes de espécies de enorme interesse comercial que não são nativas do Brasil, como é o caso do café. Por fim, a lista restringe-se ao registro de marcas e não tem serventia, por exemplo, para enfrentar denúncias de patenteamentos indevidos, como o registro por uma empresa norte-americana de dois princípios ativos, um analgésico e outro vasodilatador, retirados da secreção de um sapo da Amazônia. A empresa extraiu as substâncias do animal e patenteou-as, passando a produzi-las sinteticamente.

A lista contempla 3 mil nomes científicos de espécies vegetais, que se desdobram em cerca de 5 mil nomes comuns e suas variantes – como aipim, macaxeira, mandioca. Contém, em alguns casos, os nomes em inglês das espécies. "Isso também pode auxiliar o trabalho do examinador de marcas estrangeiro", explicou Manuel Lousada, secretário substituto de Tecnologia Industrial do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio (MDIC). Estima-se que menos de uma centena de espécies esteja sob risco de apropriação indevida. Mas, como a lista servirá como elemento de defesa em processos judiciais, o Gipi decidiu fazer uma relação mais ampla, capaz de antecipar-se a problemas que hoje não podem ser vislumbrados. Na relação constam espécies de bromélias, de uvas e de ervas medicinais. "Com a participação cada vez maior do Brasil no comércio internacional, a tendência é que surjam falsificações de nossas marcas conhecidas", diz Roberto Jaguaribe.

A iniciativa brasileira tem precedente no Peru, que já montou um banco de dados semelhante e criou uma comissão para investigar registros de produtos de sua biodiversidade em escritórios de marcas e patentes da Europa, Japão e Estados Unidos. Foram identificados cerca de 500 registros. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, anunciou no lançamento da lista que pretende agora ampliar a discussão para outros países vizinhos ligados à Organização do Tratado de Cooperação dos Países Amazônicos (Otca). "Não somos só nós que temos a andiroba. Outros países amazônicos também têm", afirmou Marina.

Dicionário de Libras disponível na Internet

A OSCIP Acessibilidade Brasil lançou na terça-feira, em seu site, o Dicionário da Língua Brasileira de Sinais, que disponibiliza, na Internet, uma relação de 5000 verbetes, com exemplos em libras e português, e ilustrados por imagem e foto. A consulta a cada verbete pode ser feita em ordem alfabética ou por assunto. O pesquisador também obterá informações sobre acepção, categoria gramatical e origem da expressão desejada.

Criado com o objetivo de contribuir para a comunicação do deficiente auditivo e com o deficiente auditivo, o Dicionário da Libras é resultado de um cuidadoso trabalho de concepção, pesquisa, elaboração, redação e filmagem, coordenado e realizado pela Acessibilidade Brasil, com a participação de uma equipe de especialistas.

20 junho 2006

Da biblioteca para a fogueira

Por José Castello
em EntreLivros
junho 2006

Livros são potencialmente perigosos e, por isso, devem ser destruídos. A repulsiva idéia, que o escritor italiano Umberto Eco desenvolveu, de forma impecável, em seu popular romance O nome da rosa, de 1981, é na verdade muito antiga. Surgiu com os próprios livros, que aparecem pela primeira vez, feitos em argila, na Suméria, Mesopotâmia, onde é hoje o sul do Iraque. Guerras sucessivas os destruíram - perto de 100 mil deles, estimam os historiadores. Ainda assim, expedições arqueológicas desenterraram tabletas de argila que datam dessa época. Desde esses tempos remotos, o livro – em suas primeiras formas, tabletas, depois papiros, pergaminhos – está, sempre, sob ameaça.

A saga dessas agressões é relatada em História universal da destruição dos livros, do escritor venezuelano Fernando Báez. “Os que queimam livros acabam queimando homens”, escreveu o poeta Heinrich Heine. A história prova que sim. Báez participou da comissão da Unesco que, em março de 2003, visitou o Iraque depois da invasão americana, para investigar a devastação da Biblioteca Nacional de Bagdá. Ela sofreu dois ataques com bombas e mísseis, seguidos de dois violentos saques. Todo o acervo desapareceu. Tabletas de argila dos sumérios, de 5.300 anos, foram roubadas das vitrines.

“Mas a destruição da Biblioteca Nacional não teve a repercussão mundial da pilhagem do Museu Arqueológico de Bagdá”, Báez lamenta. Em um café da capital, a poucas quadras da biblioteca, ele ouviu o desabafo de um professor iraquiano. “Nossa memória já não existe.” A destruição de livros vem de muito longe. Em 1975, arqueólogos escavaram, a 55 km a sudoeste de Alepo, na Síria, os restos de um antigo palácio. O que encontraram? Uma biblioteca enterrada, com um acervo de 15 mil tabletas. A destruição foi conseqüência de um ataque militar inimigo, a respeito do qual os historiadores, ainda hoje, se encontram divididos; uns o atribuem ao rei acadiano Naramsin, outros ao rei Sargão. Três mil anos antes de Cristo, livros já eram dizimados pela guerra.

A devastação continuou, por volta de 2000 a.C., em uma região governada pelo rei Hamurabi, que é, hoje, o sul de Bagdá. Em 689 a.C., as tropas de Senaquerib arrasaram a Babiblônia. Seu neto, o soberano assírio Assurbanipal, o primeiro grande colecionador de livros do mundo antigo, fundou, em Ninive, outra esplêndida biblioteca, arrasada ela também décadas depois. De seus restos, no século XIX, arqueólogos desencavaram mais de 20 mil tabletas, hoje guardadas no Museu Britânico. No início do século XX, arqueólogos desenterraram na antiga Hattusa, a capital dos hititas, mais de 10 mil tabletas escritas, em pelo menos oito línguas diferentes. Também a biblioteca do Ramesseum, o templo que Ramsés II construiu em Tebas para lhe servir de túmulo, desapareceu com seus rolos de papiros esotéricos.

Depois de Ramsés II, o faraó monoteísta Akhnatón mandou queimar milhares de papiros, porque eles falavam de espectros e demiurgos. A destruição de livros continuou na Grécia Antiga. Estima-se que 75% de toda a literatura, filosofia e ciência antiga se perderam. Das 120 obras incluídas no catálogo de Sófocles, hoje só temos a versão integral de sete, e um monte de fragmentos. “O horror é ainda maior”, lembra Báez. “Todos os pré-socráticos e todos os sofistas estão em fragmentos.” É a história em pedaços. Um dos momentos mais brutais foi o da destruição da Biblioteca de Alexandria, com um acervo que se aproximava do milhão de livros. Durante a metade de um ano, papiros contendo textos de Hesíodo, Platão, Górgias e Safo, entre tantos outros autores, foram usados para acender o fogo dos banhos públicos da cidade.

Centenas de obras da biblioteca de Aristóteles desapareceram quando da morte repentina de Alexandre Magno, de quem ele foi tutor. O fato mais grave é a perda do segundo livro de sua Poética, dedicado ao estudo da comédia. Em O nome da rosa, Umberto Eco propõe a versão de que ele foi destruído progressivamente pela Igreja Católica, para conter a influência do humor. Báez suspeita que a Poética tenha sido, na verdade, destruída pelo desleixo. Um dos momentos maiores da história de Israel é a destruição das Tábuas da Lei. O Êxodo diz que foi o próprio Moisés quem, em um acesso de cólera, as destruiu. A descoberta, em 1947, por jovens beduínos, dos célebres Manuscritos do Mar Morto, revelou a primeira coleção conhecida de livros do Antigo Testamento.

Até hoje eles provocam a polêmica, o que leva Báez a concluir que “os teólogos não parecem preparados para admitir a existência de Cristo para além da fé”. Um Cristo nos livros. A perseguição religiosa é universal. Na China, houve a caça aos textos budistas. Em 1900, em grutas em meio ao deserto de Gobi, foram encontrados milhares de textos sagrados do budismo, muitos em bom estado, mas outros em fragmentos, que lá estiveram adormecidos ao longo de 1500 anos. São Paulo lutou contra o que considerava “livros mágicos”. Em uma visita a Éfeso, levou os magos da cidade a queimarem voluntariamente seus livros, para que não caíssem nas mãos dos cristãos. “O desaparecimento dos escritos dos gnósticos, causado, em grande parte, pela feroz perseguição da Igreja Católica, merece um livro só para si”, Báez comenta.

Vínculo mais direto com a cultura grega clássica, o Império Bizantino preservou os escritos de Platão, Aristóteles, Heródoto e Arquimedes. Lá, nos século II e III, surgiu um novo formato de livro, o códice, mais resistente, feito de pele de cabra, ou de ovelha. Ainda assim, em 1204, quando a Quarta Cruzada chegou a Constantinopla, milhares de manuscritos foram destroçados. O feroz ataque das tropas turcas em 1453 também levou à destruição de milhares de livros. “Houve um momento em que todo o continente europeu ficou literalmente sem bibliotecas”, Báez recorda. Nos séculos V e VI, copiar e ler eram atividades pouco usuais, quase secretas. Se os clássicos gregos sobreviveram em Bizâncio, os clássicos latinos e celtas foram salvos, em grande parte, pelos monges da Irlanda.

Foi Carlos Magno, o rei dos francos, quem, no século VIII, estimulou os bispos a fundar escolas e bibliotecas. Nada disso conteve a destruição. Abelardo – que foi castrado por seu amor proibido por Heloisa – teve a obra queimada pelo papa Inocêncio III. Dante viu o seu Sobre a monarquia virar um monte de cinzas na Lombardia, em 1318. Savonarola queimou também os livros de Dante, mas, um ano depois, a Igreja lançou no fogo todos os seus escritos, sermões, ensaios e panfletos. Um dos momentos mais célebres da história da destruição dos livros envolve a Bíblia de Gutenberg, concluída em 1455.

Dos 180 exemplares impressos, só restam 48 cópias. O descaso a destruiu, mas o próprio Gutenberg, segundo algumas fontes, arruinou alguns exemplares, na esperança de lhes aprimorar a beleza. O horror se disseminou com a perseguição promovida pelo Santo Ofício. Com a excomunhão de Martim Lutero, em 1520, a difusão de seus escritos foi proibida pela Igreja. Em 1542, o papa Paulo III constituiu a Congregação da Inquisição. Seu sucessor, Paulo IV, criou o temido Index, lista de livros proibidos. Na Espanha, a ascensão de Felipe II fortaleceu a censura católica. Também na França, Carlos IX passou a destruir, pelo fogo, livros perigosos. A perseguição a astrólogos, alquimistas e poetas atingiu o profeta Nostradamus. Seu livro mais importante, as Centúrias, de 1555, “tem sido sistematicamente destruído desde seu aparecimento”, lembra Báez. Da primeira edição, só restam hoje dois exemplares.

A guerra sempre foi inimiga dos livros. No século XV, uma guerra civil no Japão acabou com todas as bibliotecas de Kioto. Em 1527, o exército de Carlo V, ao conquistar Roma, destruiu muitas bibliotecas. Na Guerra de Secessão dos Estados Unidos, muitos livros desapareceram. Quando tomaram o Canadá em 1813, os soldados americanos queimaram a Biblioteca Legislativa. Como vingança, os ingleses queimaram a Biblioteca do Congresso Americano. A destruição de livros é, em grande parte, fruto da hostilidade contra o pensamento. “A França foi o berço da liberdade européia porque também foi o berço da censura”, lembra Báez. As Cartas filosóficas, de Voltaire, provocaram a ira da Igreja; Voltaire foi preso e seu livro queimado.

Do mesmo modo, a publicação da Enciclopédia, em 1759, provocou tanto escândalo que o próprio editor, Le Breton, temendo as retaliações, destruiu vários exemplares. Também os Pensamentos filosóficos, de Diderot, foram incinerados por ordem do Parlamento. Na Revolução Francesa, a lei do terror estimulou o ataque a bibliotecas. Só em Paris, mais de 8 mil livros foram queimados. Também durante a Comuna de Paris, em 1871, bibliotecas foram destruídas. A emancipação da América Latina também foi marcada por saques e destruições. Na Venezuela, o Santo Ofício mandou queimar uma coleção que Simon Bolívar conseguiu reunir para o acervo de uma biblioteca pública. Durante a Guerra Civil Espanhola, a Biblioteca Nacional, em Madri, foi bombardeada. “Somente graças à abnegação dos bibliotecários, centenas de livros e manuscritos se salvaram”, observa Báez.

Com a chegada de Franco ao poder, iniciou-se um movimento de “depuração” das bibliotecas, perseguindo “idéias que possam resultar nocivas à sociedade”, de acordo com um decreto oficial. A ascensão dos nazistas gerou um verdadeiro “bibliocausto”, Báez define. Ao ser designado chanceler em 1933, Hitler, que era um pintor frustrado, iniciou uma feroz perseguição à cultura. Leitor voraz, ele, ao morrer, num exemplar dos ensaios de Ernst Schertel, deixou uma frase sublinhada: “Quem não carrega dentro de si as sementes do demoníaco nunca fará nascer um novo mundo”. A expansão soviética destruiu muitas bibliotecas. Em 1944, dezenas delas foram arrasadas em Budapeste, na Hungria. No ano seguinte, na Romênia, trezentos mil livros desapareceram.

Também quando o regime do Khmer Vermelho triunfou no Camboja, em 1975, um estranho letreiro foi dependurado na porta da Biblioteca Nacional: “Não há livros. O governo do povo triunfou”. Mas a destruição não tem ideologia. Quando subiu ao poder, no Chile, o ditador Augusto Pinochet atacou a sede da Editora Quimantú, destroçando milhares de livros. A Revolução Cultural chinesa, Báez acrescenta, foi uma máquina de destruir livros. Na Universidade de Pequim, todos os livros considerados ofensivos à consciência do povo eram queimados. Mais tarde, o escritor Pa Kin assim descreveu o clima de histeria que dominou o país e pelo qual ele mesmo se deixou arrastar: “Destruí livros que armazenei durante anos. (...) Eu negava completamente a mim mesmo”.

Em todo o planeta, a destruição se alastrou. No dia 30 de agosto de 1980, a mando da ditadura a Argentina, vários caminhões descarregaram 1,5 milhão de volumes em um terreno abandonado. Eles foram borrifados com gasolina e queimados. Mais recentemente, os talibãs destruíram na capital Cabul todos os livros contrários à sua fé. No conflito entre judeus e palestinos, milhares de livros, de ambos os lados, já foram perdidos. Em Cuba, em dezembro de 1999, em um estacionamento de uma colina de Havana, centenas de livros doados pelo governo espanhol foram destruídos. O motivo: entre eles, havia 8 mil exemplares da Declaração dos Direitos Humanos.

Em março de 1997, os bibliotecários da Escola Hertford mandaram destruir 30 mil livros sobre temas homossexuais, que haviam sido doados. Durante oito horas de trabalho, 35 voluntários enterraram os livros. Mas não é só o conservadorismo que promove queima de livros, o pensamento progressista também. Em 1998, na Virginia Ocidental, um grupo chamado Coletivo de Mulheres queimou, em uma imensa fogueira, livros considerados degradantes à condição feminina, entre eles obras de Schopenhauer. No ano de 1994, as tropas russas entraram na Chechênia e arrasaram Grosny. O bombardeio sobre a cidade destruiu uma coleção de dois milhões e setecentos mil livros. Salvaram-se apenas 20 mil livros, guardados nos subterrâneos de um estádio de futebol. Calcula-se que em toda a Chechênia mais de mil bibliotecas e mais de 11 milhões de livros foram dizimados. As ameaças mais atrozes vêm, hoje, do terrorismo.

Recentemente, grupos diversos já manifestaram a intenção de destruir a Biblioteca do Congresso americano e a Biblioteca do Vaticano. O ataque ao World Trade Center, em Nova York, aniquilou arquivos e bibliotecas de economia. Mas, com a criação dos livros-bomba, os livros se tornaram, eles também, efetivamente perigosos. Em dezembro de 2003, Romano Prodi, presidente da Comissão Européia, quase morreu quando abriu um livro-bomba recheado de pólvora. Ainda assim, consola-se Báez, a cada livro destruído, mais aumenta o nosso horror. “Cada livro queimado ilumina o mundo”, sintetizou Ralph W. Emerson. Essa constatação não recupera as bibliotecas perdidas, mas acalenta a esperança de um futuro melhor.

19 junho 2006

Projeto Gutenberg pretende dar livre acesso a mais de 300.000 livros em julho

Por Lanika Moon
em Magnet
8 junho 2006

O Projeto Gutenberg e a World eBook Library planejam tornar "um terço de um milhão" de livros eletrônicos disponíveis durante um mês na primeira feira mundial de livros eletrônicos, a World eBook Fair . Os downloads estarão disponíveis no site da feira de 4 de julho, aniversário de 35 anos da fundação do Projeto Gutenberg, até 4 de agosto de 2006, informa o site Physorg.com.

A maioria dos livros será contribuição da World eBook Library (Biblioteca Mundial de Livros Eletrônicos). A instituição normalmente cobra US$ 8,95 ao ano pelo acesso a seu banco de dados de mais de 250.000 ebooks, documentos e artigos.

A feira, porém, não será a única oportunidade para leitores ávidos devorarem livros gratuitamente. O fundador do Projeto Gutenberg, Michael Hart, informou que a parceria pretende tornar um milhão de livros eletrônicos disponíveis na edição da feira anual de 2009, acrescentando cada vez mais títulos nos anos subseqüentes. Cerca de 100.000 estarão disponíveis permanentemente nos sites do Projeto Gutenberg.

Os livros do projeto, digitados e escaneados por milhares de voluntários, em sua maioria são aqueles que não estão mais protegidos por direitos autorais e incluem ficção, não-ficção e livros de referência. Estarão disponíveis para leitores de todo o globo em aproximadamente cem idiomas.

Embora o mercado de ebooks permaneça reduzido, Hart afirma que livros eletrônicos "caíram no gosto dos leitores sem precisar de muita publicidade" e estão sendo lidos em handhelds, celulares e até mesmo em programas especiais para uso em iPods. Baseado na demanda crescente, ele prediz que haverá mais de 10 milhões de ebooks em 2020. "Tenho relatos de pessoas que afirmaram que nunca teriam lido Shakespeare se sua obra não tivesse sido colocada na internet", declarou Hart.

Projeto de Lei quer que mensagem eletrônica seja prova documental

Por Computerworld
em IDG Now!
12 junho 2006

Um Projeto de Lei (6693/06) proposto pela deputada Sandra Rosado (PSB-RN) quer que mensagens envidas por meio de correio eletrônico passem a ter caráter de prova documental, como já acontece com o telegrama e o radiograma, conforme o Código de Processo Civil. A autora destaca que as novas relações sociais decorrentes da utilização da internet exigem a adaptação do ordenamento jurídico. Segundo a deputada, o e-mail apresentado em juízo é, presumidamente, autêntico, servindo como prova da data de seu envio e do recebimento pelo destinatário.

No entanto, Sandra lembra que essa presunção é relativa e admite prova em contrário. A deputada informou que a proposta foi sugestão do advogado e professor Leandro Vieira, de Blumenau (SC). Segundo informações da Agência Câmara, o projeto será analisado em caráter conclusivo pela Comissão de Constituição e Justiça e de Cidadania.

Livros ainda são melhores que computadores

Por Magnet
em Terra Tecnologia
13 junho 2006

Um recente estudo apontou que crianças que lêem livros têm melhor desempenho nos estudos que crianças que utilizam computadores. O resultado foi fruto de um teste realizado pelo Ofsted ( Office for Standards in Education - Escritório para Padrões em Educação) em cerca de 6 mil escolas primárias na Inglaterra.

O estudo apontou que 100 libras (US$ 188) gastas em livros inspiram uma criança a aumentar 1,5% seus resultados em testes de QI, enquanto a mesma quantia investida em equipamentos para o computador, aumentará os resultados em apenas cerca de 0,72%. De acordo com o site The Register, a verba anual destinada a livros está cada vez menor nas escolas primárias.

O gasto com livros em escolas de níveis primário e secundário na Grã-Bretanha entre os anos de 2004 e 2005 foi de aproximadamente US$ 282 milhões, contra um total de US$ 803 milhões para equipamentos de tecnologia e softwares. Um artigo no jornal The Telegraph apontou que a queda de investimento em livros em escolas caiu de US$ 41 por aluno em 1999, para US$ 31 entre 2003 e 2004.

Wikipedia pode prejudicar estudantes, diz fundador do site

em Folha Online
16 junho 2006

Jimmy Wales, fundador da enciclopédia on-line Wikipedia, afirmou que sua invenção pode prejudicar estudantes. Isso porque, segundo diversos e-mails recebidos pelo executivo, os alunos usam informações do site --muitas vezes erradas-- para responder a questões de provas.

"Vocês estão na escola; não devem citar a enciclopédia", afirmou Wales, segundo o site "The Register". A cada semana, ele diz receber cerca de dez mensagens de alunos reclamando que a Wikipedia prejudicou suas notas.

"Me ajude. Tirei uma nota baixa porque usei informações da Wikipedia que estavam erradas", exemplificou o fundador, citando um e-mail. O "The Register" afirma que o executivo coloca toda a culpa nos alunos, sem admitir que alguns dos verbetes publicados não condizem com a verdade.

Este tipo de imprecisão pode ser explicada pelo fato de a Wikipedia ser uma enciclopédia escrita e editada pelos próprios internautas. Temas bastante populares recebem muita colaboração e, por isso, tendem a ser mais precisos do que assuntos dominados por um número menor de pessoas.

Biblioteca John F. Kennedy disponibilizará arquivos na Internet

Por EFE
em Folha Online
9 junho 2006

A Biblioteca e Museu Presidencial John F. Kennedy disponibilizará na internet 48 milhões de páginas de documentos, 400 mil fotos e 1.200 horas de vídeo relacionados ao célebre presidente, anunciou nesta sexta-feira o senador Edward Kennedy, seu irmão.

O processo de digitalização de todo o material pode demorar até 10 anos, mas espera-se que os primeiros documentos oficiais cheguem à rede dentro de 18 meses.

Entre os milhões de documentos históricos, há arquivos sobre a luta de JFK pelos direitos civis, seus esforços pela chegada do homem à Lua e sua atuação durante a "Crise dos Mísseis" com a União Soviética.

"O presidente Kennedy deixou escrito que a história é o meio pelo qual uma nação estabelece seu sentido de identidade e seus objetivos", disse o irmão de JFK.

A Biblioteca e Museu Presidencial John F. Kennedy é uma das 11 bibliotecas presidenciais gerenciadas pela Administração de Arquivos e Registros Nacionais.

Europa, África e Oriente Médio assinam acordo de TV digital

Por Reuters
em Terra Tecnologia
16 junho 2006

Mais de 100 países da Europa, da África e do Oriente Médio prometeram na sexta-feira migrar para transmissão digital de áudio e imagens em um plano que marca "o começo do fim" dos serviços analógicos na região. O acordo, anunciado pela União Internacional das Telecomunicações (ITU, na sigla em inglês), faz com que os países se comprometam a licenciar e apoiar transmissões digitais terrestres até 2015. A agência ligada à Organização das Nações Unidas (ONU) informou que isso permitirá som e imagens de alta qualidade, transmissão mais veloz de dados e novos serviços móveis sem fio como televisores portáteis.

Em comunicado divulgado após a conclusão de cinco semanas de conversas em Genebra, a ITU disse que a nova tecnologia permitirá o acesso e o uso de tecnologia de vídeo, áudio, Internet e dados multimídia a "qualquer hora e em qualquer lugar". O acordo não se aplica ao leste da Ásia ou às Américas, que podem optar por acertar seus próprios pactos regionais, mas cobre a Rússia e outros membros da Comunidade dos Estados Independentes (CEI), bem como o Irã.

O secretário-geral da ITU Yoshio Utsumi disse que a migração para o sistema digital deve envolver grandes custos de transição para grupos de comunicação e consumidores, que precisarão de decodificadores digitais para garantir a recepção do conteúdo depois que a transmissão analógica for descontinuada. Alguma assistência técnica será necessária para ajudar países pobres, especialmente na África, afirmou ele em entrevista coletiva. Muitos dos países se comprometeram a migrar para o sistema digital em 17 de junho de 2015, mas alguns pediram cinco anos a mais para a transferência de alguns serviços analógicos de transmissão.

Crítica se perde na ofensa gratuita

Por Gabriel Perissé
em Observatório da Imprensa
13 junho 2006

A revista Veja (edição nº 1959, de 7/6/2006) publicou matéria sobre o ex-secretário da Educação de São Paulo, Gabriel Chalita. Os jornalistas Sérgio Martins e Heloisa Joly assinam a página, em que domina em primeiro plano uma foto de Chalita de paletó e gravata, fazendo cara de nojo.

A idéia é ridicularizá-lo. Falar (mal) de seu CD Gabriel Chalita canta o amor. Apresentá-lo como pessoa superficial, vaidosa e sem conteúdo. O título da matéria "Gritem, macaquinhos" tem duplo sentido. Pode ser menção ao verso de uma das canções do CD (a música "Linda Natureza") ou ao fato de " 60.000 simpatizantes do movimento carismático da Igreja Católica" terem aplaudido o cantor no show de lançamento.

Dois adjetivos foram escolhidos a dedo para qualificar Chalita: "polígrafo" e "polivalente". Um e outro, com o mesmo antepositivo "poli", poderiam ser positivos em outros contextos. Polígrafo, aquele que escreve acerca de assuntos diversos, recebe aqui conotação pejorativa. Quem escreve sobre educação e ao mesmo tempo compõe letras de música e faz as biografias de Lu Alckmin e Vanusa parece polígrafo demais...

Polivalente, aquele que executa diferentes tarefas, neste momento deixou de ser elogio. A versatilidade de quem escreve, canta, apresenta programa de TV, faz política, ministra palestras etc. parece o cúmulo dos defeitos. De onde vem a má vontade dos jornalistas Sérgio e Heloisa? Chalita poderia responder simplesmente: "Vocês estão é com inveja".


ABSTRAINDO AS DIFERENÇAS

O desdém com que Chalita é tratado manifesta-se, sobretudo, nos diminutivos empregados. Além dos "macaquinhos", a matéria afirma: o "disquinho" lançado tem uma canção "Sou Quixote" e, entre as agressões que o gênio Cervantes já sofreu, essa é "a mais tolinha".

Não sou exatamente um admirador dos livros de Chalita. Faço-lhe muitas restrições como pedagogo, considero seus textos fracos, medíocres mesmo, tangenciando a demagogia educacional. Sua atuação como secretário da Educação não foi nula porque soube cercar-se de bons colaboradores.

O que me incomoda é que o ataque da Veja foi um ataque debochado. Certamente eu não vou comprar o CD do novo cantor, e a biografia de Lu Alckmin soou-me como oportunismo político, mas, a exemplo do advogado Sobral Pinto, católico de quatro costados, que em outras épocas defendeu o comunista Luís Carlos Prestes, abstraindo das diferenças de pensamento, gostaria de defender Chalita.

Se queremos criticar, critiquemos. Com um mínimo de respeito pela pessoa.

"Pai da Internet" preve explosão de serviços disponíveis online

Por Juliana Carpanez
em Folha Online
9 junho 2006

O norte-americano Vinton Cerf, 62, atraiu a atenção de diversos representantes do setor de tecnologia nesta semana, em visita ao Brasil. Seu currículo justifica o interesse: considerado um dos pais da internet, o atual vice-presidente do Google e presidente da Icann (sigla em inglês para Corporação da Internet para Nomes e Números Designados) tem bagagem para falar sobre o histórico da rede e também os rumos que ela deve tomar nos próximos anos.

O especialista prevê uma explosão na oferta de serviços disponíveis on-line. "Já estamos vivendo uma fase de transição, em que a internet deixa de ser uma rede de conexão de dados e pessoas para tornar-se uma 'rede de todas as coisas'", afirma.

Sua afirmação pode ser exemplificada com a disponibilidade, em um futuro próximo, de diversos produtos compatíveis com a internet. Uma máquina de lavar roupas hi-tech, por exemplo, poderá decidir o melhor ciclo de lavagens e quantidade de sabão para aquela peça de roupa manchada, quando o usuário especificar seu problema no site do fabricante.

Considerado um visionário, o cientista reforça a necessidade da inovação para que empresas consigam "formatar" modelos de negócio tirando melhor proveito da tecnologia. Como casos de sucesso, ele cita o iTunes (loja virtual da Apple que fornece conteúdo para o toca-MP3 iPod) e também a Netflix (locadora de DVDs em que os filmes escolhidos via internet são enviados pelo correio).


NOVA GERAÇÃO

A explosão de serviços on-line e conectividade deve ganhar força com a chegada ao mercado de trabalho dos jovens que atualmente se divertem com os MMORPG (sigla em inglês para RPG on-line, ou jogos que permitem a interação entre diversos usuários). "Eles estão acostumados com a interatividade e reforçarão este conceito dentro das empresas", diz.

Ainda falando sobre comportamento, Cerf descarta que a internet tenha tornado as pessoas mais hábeis para realizar diversas atividades simultaneamente. Segundo ele, esta capacidade é mais evidente entre os jovens, que são "multifuncionais" por natureza. "Pode ter certeza que, com a idade, as coisas vão ficando mais difíceis", afirma o bem-humorado cientista que se auto-intitula "o funcionário mais idoso do Google".

No Brasil, para onde veio diversas vezes desde 1975, ele também divulgou o projeto de internet interplanetária, que ajuda a desenvolver no Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa. O objetivo dos pesquisadores envolvidos neste projeto é juntar os planetas do Sistema Solar com a internet terrestre até 2010.

Japão lança e-paper de alta resolução

Por Martyn Williams
em IDG Now!
12 junho 2006

A empresa japonesa Seiko Epson desenvolveu um protótipo de display de papel eletrônico que oferece a maior resolução do mundo. A tela de 7,1 polegadas desenvolvida pela Seiko Epson tem aproximadamente o mesmo tamanho de um papel A6 (10,5 centímetros de comprimento por 14,8 centímetros de altura) e tem resolução de 1.536 pixels por 2.048 pixels, disse a companhia.

O papel eletrônico é um setor em alta para pesquisas de displays no presente. As telas são feitas em plástico, o que oferece a flexibilidade e fineza dignas de um pedaço de papel convencional. Desenvolvedores alegam que o dispositivo poderia ser usado para telas dobráveis para jornais. Como o material é digital, as notícias poderiam ser atualizadas em tempo real, com a inclusão até mesmo de vídeos.

O protótipo de tela combina diversas tecnologias que a Seiko Epson já havia desenvolvido, disse Alastair Bourne, um porta-voz da companhia. As tecnologias incluem chips de memória flexíveis, que podem ser integrados à mesma camada plástica do display e ainda dobram junto à tela. A tela é parcialmente baseada na tecnologia da E-Ink. Junto à Seiko Watch, as duas companhias começaram a vender no ano passado um relógio de pulso com display eletrônico flexível.

O novo protótipo não é apenas maior que os anteriores, mas também pode ser usado como um dispositivo ativo, o que permite a reprodução de imagens em movimento. A Epson diz que a tela do relógio não era capaz desta função.

Empresas planejam oferecer "jornal do futuro" em 2007

em Folha Online
12 junho 2006

As empresas que representam jornais dos Estados Unidos e Europa afirmam que pretendem lançar, no começo de 2007, o "jornal do futuro" --uma tela digital dobrável que disponibilizará notícias para seus usuários. A idéia é relativamente antiga, mas até então as companhias envolvidas com esta tecnologia não haviam divulgado uma data para lançamento.

Segundo a agência de notícias Reuters, a novidade permitirá que o usuário baixe edições inteiras no aparelho desenvolvido para facilitar a leitura --sua tela seria mais "confortável" do que a de laptops ou de telefones celulares, por exemplo.

Os grandes diferenciais do produto são o conforto, associado ao conceito de extrema portabilidade. A Reuters afirma que 12 empresas oferecerão a novidade a seus leitores ainda neste ano, mas não divulga o nome de todos jornais envolvidos no projeto -- San Francisco Chronicle e Houston Chronicle estão entre eles.

As empresas Sony e iRex --esta última ligada a Philips-- já demonstraram protótipos desta tecnologia que impressionaram as empresas responsáveis por grandes jornais. "Esta alternativa pode, de fato, substituir o jornal impresso", afirmou Jochen Dieckow, executivo do grupo Ifra, uma associação global de jornais sediada na Alemanha.

As telas das duas fabricantes utilizam tecnologia da E Ink --empresa criada no Massachusetts Institute of Technology-- e terão flexibilidade graças ao uso de um plástico desenvolvido pela empresa britânica Plastic Logic. A novidade da Sony deve custar entre US$ 300 e US$ 400.

16 junho 2006

Informação livre, a arma contra ditaduras

Por Pedro Doria
em O Estado de S. Paulo
12 junho 2006

Existe uma campanha nova na praça é da Anistia Internacional. A url é essa mesmo, ponto info, sem .com ou .org, para que forme uma frase: impossível reprimir informação. Não há, no mundo digital, uma campanha mais importante que esta. Ela tem a ver com a essência do que é e para que serve a internet e sobre como será seu futuro.

Já lá se vão algumas décadas desde que a rede foi fundada com dinheiro militar por cientistas e suas utopias libertárias. Hoje a internet é uma grande coisa que faz dinheiro e pela qual, muito provavelmente, passará toda a informação do planeta. Esse é um ponto-chave: o sinal de televisão, a voz no telefone, o rádio que ouvimos - tudo tende a ser digitalizado, enviado por TCP/IP e redirecionado, seja com fio, seja sem, por esta portentosa rede que chamamos internet. Ela será o caminho de todas nossas conversas mediadas por tecnologia.

Então o que é a internet? A internet são os cabos que pertencem a governos às vezes, a empresas gigantescas noutras? A internet são os discos e computadores aos quais estes cabos se ligam? A internet é uma abstração? Ela é aquilo que está nela - a informação?

Não é uma pergunta elementar e, infelizmente, cá seguirá esta coluna sem uma resposta satisfatória.

Mas provavelmente já dá para dizer que acesso à internet, se já não é, será um direito humano. Porque acesso à internet é acesso à memória coletiva do que a espécie criou. O que nós fizemos desde o momento há 110 mil anos em que nos vimos Homo sapiens pertence a todos. E é através desse conhecimento acumulado que ganhamos clareza de o que é ser gente: ter direito à liberdade, a ter idéias, a ter teto, comida, dignidade.

O que a Anistia Internacional está sugerindo é isso: a internet não são os cabos ou os computadores mas também não é uma abstração. A internet é o que botamos nela. E, por isso, ela é um direito inalienável do homem. Impossível reprimir informação é um chamado a que todos assinem um abaixo-assinado conclamando governos e empresas, de igual modo, a não interferirem com o livre fluxo de informação na rede.

O abaixo-assinado por certo não comoverá qualquer autoridade em Pequim, onde o jornalista Shi Tao está preso, condenado a 10 anos de trabalhos forçados. Ele divulgou pela rede uma ordem por escrito do governo chinês que determinava como os jornais deviam tratar um assunto determinado. Shi Tao é o ícone da campanha - mas podiam ser blogueiros egípcios ou iranianos. Podia ser Cuba e tantas outras ditaduras, de direita ou esquerda, que no fundo são iguais no asco que têm ao tal livre fluxo de informação. A rede é um perigo para ditadores.

A campanha da Anistia vai além do abaixo-assinado que já tem a firma de gente como arcebispo sul-africano e Nobel da Paz Desmond Tutu. Os voluntários estão criando um grande banco de dados de material escrito que levou gente à prisão ou exílio. É um banco com aquilo que os governos não querem publicado.

Através de um mecanismo simples, irrepressible.info sugere ao navegante que pesque umas linhas de código para colar nalgum canto de seu blog ou site. Cola-se e um banner ou selo aparece. Nele está escrito "Algum governo não quer que isto seja publicado" e, na seqüência, algumas linhas em cirílico ou árabe ou chinês ou inglês, línguas várias. A cada vez que a página é recarregada, um novo trecho censurado aparece. Se houvesse internet no tempo da ditadura, a coisa ia ser muito diferente.

A trupe quer mais do que gritar aos quatro cantos. Quer fazer com que fique inútil para qualquer governo censurar. É utópico. Mas tem um lado pragmático, porque ditaduras não são seus únicos inimigos. Empresas também são: todas as empresas de tecnologia estão convocadas a não cooperar com a interrupção do fluxo de informação.

Ficou feio para o Yahoo!, que dedurou Shi Tao e outros tantos, revelando sua identidade a pedido do governo de Pequim.

Assim, irrepressible.info pede um boicote ao Yahoo! - que ninguém use seu sistema de busca, seu email, suas coisas. No bolso, dói.

É a primeira campanha organizada do tipo, estruturada para estar presente na web em toda parte que se veja. Decididamente é a coisa mais importante acontecendo na internet hoje. Porque talvez não consigamos definir o que é a internet mas ela é, essencialmente, a maior arma contra ditaduras jamais criada pela humanidade.

Nada de pedágio na Internet

Por Lawrence Lessig e Robert McChesney
em O Estado de S. Paulo
12 junho 2006

O Congresso americano está prestes a realizar uma votação histórica sobre o futuro da internet. Decidirá se a internet vai permanecer uma tecnologia livre e aberta que fomenta a inovação, o crescimento econômico e a comunicação democrática ou se será transformada em propriedade de empresas a cabo e companhias telefônicas, que poderão colocar cabines de pedágio em todos os acessos e saídas da auto-estrada da informação.

No centro deste debate está a mais importante política pública da qual provavelmente você nunca ouviu falar - a "neutralidade na rede".

Neutralidade na rede significa simplesmente que todo o conteúdo na internet deve ser tratado da mesma forma e movimentado pela rede à mesma velocidade. Os proprietários da fiação da internet não podem fazer discriminação. Este é o projeto simples, mas brilhante, "de ponta a ponta" da internet que fez dela uma força tão poderosa para o bem econômico e social - todas as informações e o controle são detidos pelos produtores e usuários, e não pelas redes que os conectam.

As proteções que garantiam a neutralidade da rede foram uma lei desde o nascimento da internet - vigorando até o ano passado, quando a Federal Communications Commission (Comissão Federal de Comunicações) eliminou as normas que impediam as empresas a cabo e de telefonia de discriminar provedores de conteúdo. Isso desencadeou uma onda de anúncios da parte de diretores-presidentes de empresas telefônicas dizendo que planejam fazer exatamente isso.

Agora o Congresso está diante de uma decisão. Vamos devolver a neutralidade à rede e manter a internet livre? Ou vamos deixar que ela morra nas mãos dos proprietários de redes que estão ansiosos para se transformarem em guarda-cancelas do conteúdo? As implicações de se perder para sempre a neutralidade da rede não poderiam ser mais graves.

A atual legislação, que conta com o respaldo de empresas como AT&T, Verizon e Comcast, permitirá que as firmas criem diferentes camadas de serviços online. Elas poderão vender acesso à via expressa para grandes empresas e relegar todos os demais ao equivalente digital a uma tortuosa estrada de terra. Pior ainda: esses guardiães determinarão quem vai ter tratamento especial e quem não vai.

A idéia deles é se postar entre o provedor de conteúdo e o consumidor, exigindo um pedágio para garantir um serviço de qualidade. É o que Timothy Wu, um especialista em política da internet da Columbia University, chama de "modelo de negócios Tony Soprano (personagem que é chefe da máfia da série de televisão Família Soprano)". Ou seja, extorquindo dinheiro para proteção de todos os sites na web - desde o menor dos blogueiros até o Google -, os proprietários de rede terão imensos lucros.

Sem a neutralidade da rede, a internet começaria a ficar parecida com a TV a cabo. Uma meia dúzia de grandes empresas controlarão o acesso ao conteúdo e sua distribuição, decidindo o que você vai ver e quanto vai pagar por isso. Os grandes setores como os de assistência médica, finanças, varejo e jogo vão se defrontar com enormes tarifas para o uso rápido e seguro da web - todos sujeitos a negociações discriminatórias e exclusivas com as gigantes da telefonia e da telefonia a cabo.

Perderemos a oportunidade de expandir vastamente o acesso e a distribuição de notícias independentes e de informações comunitárias por meio da televisão de banda larga. Mais de 60% do conteúdo da web é criado por pessoas comuns, e não por empresas. Como essa inovação e produção vão progredir se seus criadores vão precisar pedir permissão a um cartel de proprietários de rede?

O cheiro dos lucros caídos do céu paira no ar em Washington. As empresas de telefonia estão fazendo o máximo possível para legislar para si mesmas o poder do monopólio. Estão gastando milhões em dólares em propaganda nos círculos do poder em Washington, em lobistas muito bem pagos, em firmas de pesquisa e consultoria que podem ser "compradas" e em operações de falsas bases populares com nomes Orwellianos como Hands Off the Internet e NetCompetition.org.

A elas se opõem uma coalizão de verdadeiras bases populares de mais de 700 grupos, 5 mil blogueiros e 750 mil americanos que se arregimentaram para apoiar a neutralidade da rede no site www.savetheinternet.com. A coalizão é de esquerda e de direita, comercial e não comercial, pública e privada. Conta com o apoio de instituições das mais diversas áreas. Inclui também os fundadores da internet, as marcas famosas do Vale do Silício e um bloco de varejistas, inovadores e empreendedores. Coalizão de tais amplitude, profundidade e determinação são raras na política contemporânea.

A maioria dos grandes inovadores da história da internet começou na garagem de suas casas, com grandes idéias e um pequeno capital. Isso não é por acaso. As proteções à neutralidade da rede minimizaram o controle pelos proprietários de rede, maximizaram a competição e convidaram forasteiros a inovar. A neutralidade da rede garantiu um mercado livre e competitivo para o conteúdo da internet. Os benefícios são extraordinários e inegáveis.

O Congresso está decidindo o futuro da internet. A questão que se apresenta é simples: deve a internet ser entregue à meia dúzia de empresas a cabo e de telefonia que controlam o acesso online de 98% do mercado de banda larga? Somente um Congresso cercado por lobistas de telecomunicações de alto preço e recheado com contribuições para campanha poderá possivelmente considerar um tal ato absurdo.

As pessoas estão acordando para o que está em jogo, e suas vozes estão ficando cada vez mais altas a cada dia que passa. À medida que milhões de cidadãos forem se dando conta dos fatos, a mensagem para o Congresso será clara: Salvem a internet.

O congresso deve ficar fora da web

Por The Washington Post
em O Estado de S. Paulo
14 junho 2006

O Senado americano realizará hoje audiências sobre a "neutralidade da rede". A idéia é que os condutores e fios que formam a internet devem tratar todos os conteúdos igualmente. Uma aliança, cujos membros vão desde a Coalizão Cristã até a MoveOn.org, está exigindo que o Congresso estabeleça esta neutralidade em forma de lei. Essas entidades temem que, do contrário, os donos das companhias condutoras - empresas a cabo, companhias telefônicas e assim por diante - ofereçam conteúdo corporativo de alta velocidade cobrando taxas elevadas , enquanto direcionam sites políticos na web e aficionados pela web para um caminho secundário de informações lentas.

Esses argumentos são ampliados pelas grandes empresas de internet - Google, Microsoft, eBay - que desejam que seus serviços sejam entregues rapidamente mas não querem que os donos dos condutores cobrem taxas deles. Embora esta coalizão tenha perdido uma votação na Câmara na semana passada, suas perspectivas são melhores no Senado.

Os defensores da neutralidade sugerem, absurdamente, que uma internet não neutra fique parecida com uma TV a cabo - um meio de comunicação através do qual é oferecido somente conteúdos de empresas. Esta analogia deixa de lado o fato que o mercado de conexões de internet, diferentemente do de televisão a cabo, é competitivo. Mais de 60% dos códigos de endereços postais (CEPs) dos Estados Unidos são atendidos por quatro ou mais provedores de banda larga que concorrem entre si para dar aos consumidores o que eles querem - acesso rápido para o leque completo de sites na web, incluindo os da liga de futebol de seus filhos, das fotos de seus primos, o MoveOn.org e a Coalizão Cristã. Se um provedor de banda larga tornar mais lento o acesso para os blogueiros alternativos, a blogosfera se erguerá em protesto e o provedor poderá perder clientes.

A analogia com a TV a cabo é duplamente errada porque a cultura da mídia é um reflexo da tecnologia. A TV a cabo tem sido a província de estúdios de Hollywood porque fazer uma comédia de situações (sitcom) é dispendioso e difícil - embora isso esteja mudando com as câmeras de vídeo digitais baratas. Da mesma forma, a internet é a província dos experimentadores e aficionados porque criar seu próprio site na Web é barato e fácil. Graças à tecnologia, a internet sempre será uma mídia relativamente democrática cujas barreiras para entrada são baixas.

O argumento sério em favor da neutralidade da rede não tem nada a ver com o fantasma da televisão a cabo. É que uma rede não neutra erguerá barreiras para entrada apenas ligeiramente - mas o suficiente para ser alarmante. Usando uma analogia muito melhor - os supermercados competitivos visam agradar os clientes oferecendo todos os tipos de mercadorias, mas o inventor de um novo salgadinho tem que passar pelas dificuldades das negociações para ter um espaço para exposição do seu produto e poderá acabar na prateleira de baixo, o que diminui seus incentivos. Da mesma forma, se os proprietários dos condutores da rede oferecerem para as empresas em rápida ascensão serviços mais lentos do que os oferecidos às empresas já estabelecidas no mercado, o incentivo para inovar sairá prejudicado.

Será que o serviço de mensagens instantâneas ou telefonia pela internet teriam decolado se seus inventores tivessem que implorar às firmas de banda larga para portá-los? Esta preocupação não pode ser exagerada. As empresas ascendentes já enfrentam barreiras, enquanto as firmas estabelecidas já têm o reconhecimento da marca e investem em truques para fazer seus sites descarregarem mais rapidamente. A barreira extra criada pela falta de neutralidade da rede provavelmente será menor porque os donos dos condutores sabem que os consumidores querem acesso aos inovadores.

Porém, o outro lado tem argumentos poderosos. Se você quer inovação na internet, precisa de melhores portadoras - portadoras mais rápidas, menos suscetíveis aos hackers e spammers e melhores de formas que ninguém até agora pensou. A falta de incentivos para a inovação das portadoras é mais premente que a falta de incentivos para criar novos serviços na web. É possível constatar esse desequilíbrio na baixa valorização que Wall Street faz das empresas de infra-estrutura de internet como a Verizon (relação preço-lucro = 12) e seu encantamento com as firmas de serviço de internet como a Google (relação preço-lucro = 69). Pode-se ver, também, no fato de que a infra-estrutura de banda larga dos EUA está atrás da do Leste da Ásia e da Europa. A permissão para que os construtores de infra-estrutura da internet recuperem seus investimentos cobrando os Googles e os Amazons pelo uso da rede equilibraria os incentivos para inovação. Ironicamente, uma rede não neutra aceleraria a disseminação de banda larga veloz capaz de oferecer filmes, permitindo que os amadores com câmeras de vídeo rivalizem com os estúdios de Hollywood. Os defensores da neutralidade que criticam a TV a cabo corporativa devem levar isso em consideração.

O aspecto mais fraco da defesa da neutralidade é que os perigos alegados são hipotéticos. Parece improvável que os provedores da banda larga piorem os serviços da web que as pessoas querem e muito mais provável que usem a não neutralidade para cobrar por serviços aprimorados que dependem da entrega rápida e confiável, tais como alta definição em tempo real ou dados confiáveis para monitores do cardíacos. Se isto mostrar ser ruim, o governo deve interferir. Mas não deve oprimir a internet com uma regulamentação preventiva.