10 abril 2006

Palavras do Brasil colonial

Por Thiago Romero
em Agência FAPESP
10 abril 2006

O projeto é ambicioso: montar uma base de dados a partir de manuscritos que retratam a linguagem usada no início da formação do Brasil. A professora aposentada Maria Tereza Camargo Biderman, ligada à Faculdade de Ciências e Letras (FCL) da Universidade Estadual Paulista ( Unesp), em Araraquara, pretende, dentro de três anos, lançar um dicionário com aproximadamente 10 mil palavras.

"A proposta é recuperar a história do nosso vocabulário e analisar como ele se formou. Isso é importante, uma vez que o Brasil é composto por numerosas culturas e por uma diversidade étnica enorme. E a língua portuguesa registra todo esse universo brasileiro desde a colonização", disse Maria Tereza à Agência FAPESP.

Os textos impressos usados na obra são de autoria de brasileiros ou de portugueses radicados no país. "Estamos analisando documentos de toda a natureza, como cartas pessoais e públicas, relatórios, tratados e obras literárias", explica Maria Tereza. "Desde janeiro, quando começamos a pesquisa, realizamos uma intensa varredura em arquivos e bibliotecas de São Paulo. Já temos uma grande quantidade de material digitalizado em nossa base de dados."

O novo dicionário deverá ser um pouco diferente do padrão tradicional. Maria Tereza explica que, a partir da grafia contemporânea de cada palavra, serão descritos todos os significados e usos que a palavra teve durante o período analisado. "A ortografia da língua portuguesa só se estabilizou no Brasil em 1942. Antes disso, tínhamos uma verdadeira anarquia gráfica", lembra.

A palavra "inhame" é um dos exemplos que ilustram bem o espírito da obra. "Nos manuscritos do período analisado, encontramos diferentes grafias para essa mesma palavra. Isso porque os portugueses não entendiam a pronúncia dos indígenas e acabavam escrevendo de formas distintas", conta Maria Tereza, que é autora de outras obras de referência: Dicionário Contemporâneo de Português (Editora Vozes, 1982), Dicionário Didático de Português (Editora Ática, 1998), Dicionário Ilustrado de Português (Editora Ática, 2005) e Dicionário do Estudante (Editora Globo, 2005).

O projeto de pesquisa "Dicionário histórico do português do Brasil – séculos XVI, XVII e XVIII", aprovado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) no âmbito do Programa Instituto do Milênio, está orçado em R$ 1 milhão.

Participam da iniciativa organizada por Maria Tereza pesquisadores da Unesp de Araraquara, da Universidade de São Paulo, Universidade Federal de São Carlos , Universidade Federal do Rio de Janeiro, Universidade Federal de Minas Gerais, Universidade Federal de Uberlândia, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Universidade Federal do Mato Grosso do Sul, Universidade Federal da Bahia, Universidade Federal do Ceará e da Universidade de Évora, em Portugal.