10 abril 2006

Uso de mídia impressa predomina no ensino a distância no Brasil

Por Fábio Takahashi
em Folha de São Paulo
9 abril 2006

Apesar de normalmente ser relacionada à internet, a educação a distância no Brasil ainda é dominada por um meio rudimentar: o material impresso, geralmente em forma de apostilas. Isso é o que mostra o Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância 2006, que será lançado na próxima segunda-feira e foi antecipado à Folha.

O estudo, que conta com o patrocínio do Ministério da Educação (MEC), mostra que 84,7% das instituições que oferecem ensino a distância utilizam a mídia impressa. Atrás do papel, vêm o e-learning (internet), com 61,2% e o CD-Rom, com 41,8% -a soma passa dos 100% porque a mesma instituição pode usar mais de uma mídia como método de aprendizagem.

A pesquisa aponta que 504 mil pessoas no país usaram o ensino a distância no ano passado, somente nas escolas autorizadas. A predominância do material impresso é explicada pela baixa presença do computador no país. Segundo a Pnad 2004 (Pesquisa Nacional por Amostragem de Domicílios), apenas 16,3% dos domicílios do país têm computador e 12,2% possuem internet.

"O material impresso tem a vantagem de estarmos acostumados a ler no papel. Tirando isso, não há mais nenhuma vantagem nele", afirma o presidente do Instituto Monitor , Roberto Palhares - sua instituição oferece ensino técnico a distância por meio de apostilas há 60 anos.

"Imagine uma aula de geografia. Pelo e-learning, você pode ver um mapa animado mostrando a evolução do desmatamento da Amazônia", aponta o coordenador do anuário, Fábio Sanchez.

"Além disso, você pode ter um contato imediato com o professor e com colegas, por meio de salas de bate-papo. Isso mostra que o país ainda não aproveita todos os recursos da educação a distância, apesar de o papel ter a vantagem de poder ser acessado onde você estiver", afirma Sanchez.


PREDOMÍNIO

Os dois especialistas dizem que a tendência é que, no curto e médio prazo, o material impresso vire um apoio ao sistema virtual. O avanço do aprendizado via internet depende, porém, do maior acesso ao computador no país.

Atualmente, a mídia impressa predomina em todos os tipos de ensino oferecidos a distância: 81,3% das instituições com credenciamento federal, que oferecem cursos de nível superior, utilizam o papel, contra 73,4% do e-learning.

Já as com autorização em âmbito estadual, com cursos de educação básica e técnica, utilizam a mídia impressa em 93,9% dos casos, ante 39,4% do e-learning.


PERFIL

O anuário da educação a distância, feito pela segunda vez, considerou as 217 instituições credenciadas no Ministério da Educação ou nos conselhos estaduais de educação. As que possuem autorização federal oferecem cursos de graduação, tecnológicos, de pós-graduação e seqüenciais.

Já as instituições com credenciamento estadual mantêm cursos de EJA (educação de jovens e adultos), ensino fundamental, médio e técnico.

O anuário foi desenvolvido pela Abed (Associação Brasileira de Ensino a Distância) e pelo Instituto Monitor. A apresentação do estudo será feita durante o 4º seminário da Abed, que começa neste domingo e vai até terça-feira.


ALUNOS E CURSOS TIVERAM AUMENTO

O número de alunos em cursos a distância credenciados em âmbito federal ou estadual aumentou 62,6% entre 2004 e 2005, aponta o Anuário Brasileiro Estatístico de Educação Aberta e a Distância 2006, que usa como base o ano passado. Em termos absolutos, o número de estudantes passou de 309 mil para 504 mil.

Desse total, 59,7% estão em cursos de graduação, tecnológico ou de pós-graduação. Os outros 40,3% cursaram EJA (educação de jovens e adultos), ensino fundamental, médio ou técnico. Essas informações referem-se às instituições com registros nos conselhos nacionais e estaduais de educação.

Se considerados projetos não-credenciados, mas "relevantes", segundo o anuário (como o Sebrae e Fundação Roberto Marinho), o número de estudantes em cursos a distância sobe de 504 mil para 1,2 milhão. O ritmo de abertura de cursos cresceu 473%: em 2004, foram criados 56; em 2005,321.

O coordenador do anuário, Fábio Sanchez, dá quatro justificativas: a demanda, principalmente dos professores da educação básica sem formação superior; mudança na legislação, que deixou mais claro o processo de credenciamento; o crescimento da banda larga no país; e o fato de a União adotar projetos de longo prazo no setor, como a criação da Universidade Aberta do Brasil.
Também cresceu a verba para a Secretaria de Educação a Distância do Ministério da Educação: aumento de R$ 64 milhões para R$ 96,8 milhões entre 2004 e 2005.