17 maio 2006

Dependência digital

em Agência FAPESP
16 maio 2006

Em meados de 1996, o número de usuários de internet no planeta era estimado em 37 milhões, equivalentes a 0,88% da população da época. Dez anos depois, 15,7% do mundo navega pela rede de computadores, com um total que já passou o primeiro bilhão de usuários, segundo dados do serviço Internet World Stats.

Em pouco tempo, a internet se tornou parte fundamental da vida pessoal e profissional de boa parte da humanidade, mas tanto a sua importância como os efeitos que acarreta nos usuários ainda não são bem compreendidos. Por conta disso, Diane Wieland, diretora do Programa de Enfermagem da Universidade La Salle, nos Estados Unidos, decidiu investigar como o excesso de uso tem afetado os internautas.

A pesquisadora analisou estudos comportamentais conduzidos desde 1997 para tentar traçar um panorama da dependência de internet. Os resultados foram publicados em artigo na revista Perspectives in Psychiatric Care.

Diane destaca que o caráter de doença é reconhecido pelos especialistas. Os termos "dependência de internet" e "uso patológico da internet", por exemplo, já constam do Diagnostic and Statistical Manual da Associação Psiquiátrica Norte-Americana.

A pesquisadora afirma que, embora seja uma valiosa ferramenta para comunicação, a internet "tem propriedades que, para alguns indivíduos, promovem comportamentos viciosos e relacionamentos interpessoais de falsa intimidade". Ela estima que de 5% a 10% extrapolam o uso da internet de alguma forma, o que daria, no mínimo, 50 milhões de pessoas.

Segundo a pesquisadora, a internet tem mudado a maneira como as relações pessoais são iniciadas e desenroladas. Aqui, a rede apresenta diversos pontos positivos, como uma ferramenta que pode ajudar no estabelecimento de contatos pessoais. Do lado negativo, há um grande risco do surgimento de contatos superficiais e de falsa intimidade, "que podem se desenvolver com elevada freqüência".

"A dependência de internet é experimentada diferentemente por homens e mulheres. Homens estão mais interessados na busca de informações, em jogos e em cibersexo. Mulheres usam mais como apoio para amizade, romance ou como mecanismo de reclamação de seus parceiros", diz o artigo.

Diane nota que, especialmente na questão do sexo virtual, ou cibersexo, as relações feitas por meio de computadores tendem a formar um triângulo com o relacionamento real do internauta. Mas a passagem do virtual para o real é comum, a ponto de a infidelidade ter sido um dos problemas mais freqüentemente mencionados nos estudos.

"Os indivíduos afetados também demonstram incapacidade de controlar o uso e podem apresentar fatores como depressão, alcoolismo ou transtorno obsessivo-compulsivo", afirma Diane.

O artigo Computer addiction: implications for nursing psychotherapy practice pode ser lido em www.blackwell-synergy.com/loi/ppc.