31 maio 2006

Memória brasileira: ora em branco total, ora em inteligência exarcebada

Por Jotabê Medeiros e Camila Molina
em O Estado de S. Paulo
28 maio 2006

Enquanto o Masp amarga a crise, o Museu Nacional de Belas Artes (MNBA), no Rio, o maior museu carioca, vive uma "era de opulência". Os números desse risorgimento são inequívocos. O MNBA recebeu, em 2005, uma injeção de R$ 9 milhões. Agora, em 2006, vai receber outros R$ 6 milhões. Ganhou 800 metros quadrados com uma reforma e vai inaugurar, no dia 5, a nova reserva técnica. Recebeu em doação mais de 2 mil obras de arte contemporânea. E também preciosidades do século 19, como dois retratos de Victor Meirelles, um de Pedro Américo e uma pintura e um desenho de Visconti.

Uma situação que mudou da água para o vinho. Até 2004, durante o período de chuvas, era comum, no interior do museu, o uso de baldes para segurar água das goteiras. Fachadas rachadas, telhas quebradas, cúpulas destroçadas também faziam parte da paisagem. "Eu fico até sem graça. Enquanto estamos melhorando, outros museus, como o Masp, passam por tantos problemas", diz Mônica Xexéo, diretora do MNBA.

O retrato dos museus do País é diversificado. Em Belo Horizonte, outra instituição importante enfrenta problemas. Trata-se do Museu da Pampulha, instalado em prédio integrante do Conjunto Arquitetônico da Pampulha, projeto do arquiteto Oscar Niemeyer. É o único museu de arte de Belo Horizonte, grande pólo de arte contemporânea do País, que comemora 50 anos em 2007. Seu acervo tem cerca de mil obras, com peças de mestres como Guignard e Volpi. Na segunda-feira, o MAP, como é conhecido, teve de desmontar exposições dos artistas Pedro Croft e Rodrigo Andrade por falta de verba. E suspendeu também o seu programa Bolsa de Arte.

Mantido como uma instituição ligada à Fundação Municipal de Cultura de Belo Horizonte (a Secretaria de Cultura da cidade), o museu está em compasso de espera desde 2002. "Dizer que fechamos é muito forte, mas, desde terça-feira, estamos sem nenhuma exposição e acho que ficaremos assim durante um mês", diz Priscila Freire, que dirige o museu.