26 maio 2006

Reabre na Lapa museu com acervo da Revolução de 1932

Por Juliano Machado
em O Estado de S. Paulo
25 maio 2006

Após quatro anos fechado para visitação, o Museu Maria Soldado, que abriga o acervo da Revolução Constitucionalista de 1932, reabre hoje ao público como parte das comemorações do 9 de Julho. Todos os objetos e documentos sobre o levante paulista contra a ditadura de Getúlio Vargas saíram do Obelisco do Ibirapuera e foram para a Lapa, na zona oeste, onde funciona ainda o núcleo distrital da Sociedade Veteranos de 32 - MMDC.

Para o coronel reformado Mário Ventura, secretário-executivo da sociedade, a mudança foi providencial. "O Obelisco está em reforma desde 2002 e o acervo estava em mau estado de conservação." E a escolha pela Lapa não foi por acaso. "As entidades de lá sempre participaram ativamente da preservação do patrimônio de 32", disse. O bairro também contribuiu para a decisão judicial, em primeira instância, no fim de abril, de o Túnel Daher Elias Cutait voltar a se chamar 9 de Julho. Das 40 entidades que manifestaram apoio à ação do Ministério Público Estadual pela restauração do nome, 8 são da Lapa.

Criado em junho do ano passado, o núcleo do MMDC foi idealizado pelo professor José Carlos Lima. Quem for ao museu poderá ver espingardas, granadas e fardas dos soldados, dezenas de fotos e até a hélice de um avião monomotor derrubado pelas tropas de Vargas. Há ainda vários modelos do capacete de aço que se tornou o símbolo da resistência paulista. Esses capacetes eram fabricados e doados por duas metalúrgicas da Lapa, a Martins Ferreira e a Fiel, que já não existem.

Segundo a Sociedade Veteranos de 32, apenas 200 dos 18 mil homens que estiveram nas trincheiras ainda estão vivos. No desfile de 9 de julho de 2005, apareceram 28. Um deles era Francisco Bento da Silva, de 91 anos, morador da Lapa há 36. "Eu era muito jovem e só entendi o porquê de lutar no final." A revolução terminou em 2 de outubro de 1932 com a derrota de São Paulo. Dois anos depois, porém, seus principais objetivos foram alcançados: a promulgação de nova Constituição e retorno ao Estado democrático.


MARCHA

As festividades terão uma marcha de 825 quilômetros, cruzando o Estado de oeste a leste. A partida será dia 29, em Santa Fé do Sul, na divisa com Mato Grosso do Sul - uma homenagem ao Estado vizinho que declarou apoio aos paulistas. Serão 41 dias de caminhada até a chegada a Cruzeiro, no Vale do Paraíba, em 9 de julho, onde foi negociado o fim do conflito. As prefeituras dos 49 municípios percorridos - não inclui São Paulo - vão oferecer alojamentos para os viajantes. Os veteranos, todos com mais de 90 anos, só participarão de caminhadas em trechos de até 20 quilômetros.