13 junho 2006

As coisas em que, ainda, acredito

Por Aldo de A. Barreto

Acredito que a informação é abundante, e não se esgota com o consumo; e que esta abundância provoca o efeito Bush-Mendel* de desordem em acervos. Penso que informações se institucionalizam em estoques e que estes são estáticos, por si só não geram conhecimento; este se produz a partir dos processos de comunicação que se utilizam destes estoques. O conhecimento é um processo sempre dinâmico e se realiza fora dos estoques em um espaço onde os receptores de informação habitam.

Acredito que a informação tem muitas maneiras de ser enunciada. Eu a nomeei como: "estruturas significantes com a competência de gerar conhecimento"; aquilo que, num contexto cultural específico, possui valor denotativo, evocativo, mágico e místico.

Acredito que o objeto de estudo da ciência da informação é um constante construir de princípios e práticas relacionados com: a criação da informação como ação humana de dar existência ao que não existia antes e depois o tratamento desta informação produzida para sua organização e sua distribuição. É do seu objeto o estudo dos diversos fluxos internos de gestão e externos de transferência do e para um autor/receptor; nesse continuum a ciência da informação pode utilizar diferentes linguagens, uma variedade de formas, e seguir através de uma quantidade de canais.

Acredito que a ciência da informação é interdisciplinar , mas que uma área interdisciplinar, não pode simplesmente transpor teorias e conceitos emprestados de outras áreas de conhecimento. Esta transportação de idéias, métodos, do pensar em precisa respeitar as características existentes e manifestas do campo de ação da ciência da informação, da coisa informação em si, com toda as suas condições, características e singularidades.

Assim, toda uma argumentação precisa ser construída para, mostrar as qualidades e a viabilidade da transferência de teorias, conceitos e metodologias estrangeiras que, precisa ser convincente.

Sobretudo acredito que, a interdisciplinaridade não floresce do trabalho de um pesquisador solitário, quando este importa conceitos, explicações e métodos de outra área para conseguir explicar o seu trabalho. A interdisciplinaridade exige uma interação de grupos de pessoas de dois ou mais campos trabalhando em conjunto e para este fim específico. É a observância partilhada e continua destes preceitos e normas acadêmicas que a produz - a interdisciplinaridade não se constrói na desordem da emergência fortuita, solitária e contingente.

Acredito que pesquisa em ciência da informação é um processo orientado para expandir as fronteiras do conhecimento da área; representa uma investigação ordenada e original que é coerente com uma linha de pensamento conceitual e teórica; persegue o que é novo e deve mostrar evidências da novidade, apoiada por um método racional de ação.

Acredito que a construção de uma base de dados, uma metodologia para coletar informação ou a simples descrição de um produto, serviço ou modelo de sistema de informação não podem ser considerados como uma pesquisa nesta área, mais poderiam surgir como sub-produto ou insumo de uma pesquisa.

Em meu trabalho nestes anos acredito que a informação sintoniza o mundo, pois referencia o homem ao seu passado histórico, às suas cognições prévias e ao seu espaço de com(vivência), colocando-o em um ponto do presente, com uma memória do passado e uma perspectiva de futuro; o espaço de apropriação da informação, do conhecimento, se localiza no presente continuo. Acredito , também, que os fluxos de informação se movem em dois níveis: em um primeiro nível os fluxos internos de informação se movimentam entre os elementos de um sistema de agregação, armazenamento e recuperação da informação, e se orientam para sua organização e controle. Estes fluxos internos se agregam, por uma premissa de razão prática e produtivista com um conjunto de ações pautadas por decisões de um agir baseado em princípios.

Em outro nível existem fluxos extremos. No fluxo extremo a direita, a premissa se transforma na promessa, uma promessa de que a informação gerada pelo autor possa ser assimilada como conhecimento pelo receptor. No se nascimento a informação realiza um fenômeno de transferência do pensamento do autor para uma inscrição de informação cuja Essência está na passagem de uma experiência, de um fato ou uma idéia, que está em uma linguagem de pensamento para inscrição em um texto de informação editado. Um fluxo duas linguagens.

No fluxo à direita temos um processo de cognição que transforma a informação em conhecimento. Uma apropriação da informação pública para um subjetivismo que se quer privado. Um desfalecer da informação para renascer conhecimento. No nascimento acontece uma desapropriação cognitiva, quando o pensamento, do autor, se arranja em uma linguagem com inscrições próprias. No conhecimento a passagem ocorre na direção dos labirintos do pensar privado um espaço de vivência pública do receptor. Uma pulsão de criação ao nascer; um desfalecer para apropriação no conhecimento. O Pensamento---> Informação-----.>Conhecimento formam uma complexa convivência de Eros com Tânatos.

Acredito que estes diferentes fluxos indicam as possíveis dissensões entre a biblioteconomia e a ciência da informação e a arquivística, a museologia; na ciência da informação os estudos se envolvendo os fluxos extremos, as outras áreas, explicam e realizamos fluxos internos do sistema de informação, sem deixar de pensar no receptor.

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* Efeito Bush-Mendel – Desde 1945 Vannevar Bush tinha grande medo do excesso de informação causado pelo volume de documentos liberado no pós-guerra; escreveu sobre isso no periódico “Atlantic Mounthy”, em um artigo denominado “As we may think” e exemplificava esta falta de gestão e controle com o caso das Leis da Genética de Gregor Mendel (1822-1884) que ficaram perdidas por uma geração devido a esta abundância de informação.