19 junho 2006

Crítica se perde na ofensa gratuita

Por Gabriel Perissé
em Observatório da Imprensa
13 junho 2006

A revista Veja (edição nº 1959, de 7/6/2006) publicou matéria sobre o ex-secretário da Educação de São Paulo, Gabriel Chalita. Os jornalistas Sérgio Martins e Heloisa Joly assinam a página, em que domina em primeiro plano uma foto de Chalita de paletó e gravata, fazendo cara de nojo.

A idéia é ridicularizá-lo. Falar (mal) de seu CD Gabriel Chalita canta o amor. Apresentá-lo como pessoa superficial, vaidosa e sem conteúdo. O título da matéria "Gritem, macaquinhos" tem duplo sentido. Pode ser menção ao verso de uma das canções do CD (a música "Linda Natureza") ou ao fato de " 60.000 simpatizantes do movimento carismático da Igreja Católica" terem aplaudido o cantor no show de lançamento.

Dois adjetivos foram escolhidos a dedo para qualificar Chalita: "polígrafo" e "polivalente". Um e outro, com o mesmo antepositivo "poli", poderiam ser positivos em outros contextos. Polígrafo, aquele que escreve acerca de assuntos diversos, recebe aqui conotação pejorativa. Quem escreve sobre educação e ao mesmo tempo compõe letras de música e faz as biografias de Lu Alckmin e Vanusa parece polígrafo demais...

Polivalente, aquele que executa diferentes tarefas, neste momento deixou de ser elogio. A versatilidade de quem escreve, canta, apresenta programa de TV, faz política, ministra palestras etc. parece o cúmulo dos defeitos. De onde vem a má vontade dos jornalistas Sérgio e Heloisa? Chalita poderia responder simplesmente: "Vocês estão é com inveja".


ABSTRAINDO AS DIFERENÇAS

O desdém com que Chalita é tratado manifesta-se, sobretudo, nos diminutivos empregados. Além dos "macaquinhos", a matéria afirma: o "disquinho" lançado tem uma canção "Sou Quixote" e, entre as agressões que o gênio Cervantes já sofreu, essa é "a mais tolinha".

Não sou exatamente um admirador dos livros de Chalita. Faço-lhe muitas restrições como pedagogo, considero seus textos fracos, medíocres mesmo, tangenciando a demagogia educacional. Sua atuação como secretário da Educação não foi nula porque soube cercar-se de bons colaboradores.

O que me incomoda é que o ataque da Veja foi um ataque debochado. Certamente eu não vou comprar o CD do novo cantor, e a biografia de Lu Alckmin soou-me como oportunismo político, mas, a exemplo do advogado Sobral Pinto, católico de quatro costados, que em outras épocas defendeu o comunista Luís Carlos Prestes, abstraindo das diferenças de pensamento, gostaria de defender Chalita.

Se queremos criticar, critiquemos. Com um mínimo de respeito pela pessoa.