27 julho 2006

Bibliotecas colombianas mudam cenário da capital Bogotá

em Folha de S. Paulo
11 julho 2006

Com 2,7 milhões de visitantes por ano, a Biblioteca Luis Ángel Arango, em Bogotá, é uma das mais visitadas do mundo. Recebe, em média, 9.000 pessoas diariamente. É mais do que a soma de visitantes de Masp (Museu de Arte Moderna de São Paulo), Biblioteca Mário de Andrade e Pinacoteca juntos por dia.

Mantida pelo Banco Central do país, ela tem 2 milhões de livros e capacidade para 2.000 leitores sentados. Nos últimos anos, a BLAA fez escola: a prefeitura local construiu outras megabibliotecas pela cidade e criou diversos programas de leitura que visam formar leitores em massa.

Tal empenho recebeu reconhecimento da comunidade internacional. A Unesco escolheu Bogotá como a primeira cidade latino-americana a ser Capital Mundial do Livro, título que ostentará em 2007. A Fundação Bill e Melinda Gates doou US$ 1 milhão para a rede municipal de bibliotecas e colabora com equipamentos tecnológicos para os centros.

Em visita recente a São Paulo, convidada pela Secretaria Municipal de Relações Internacionais, a diretora da BLAA, Ángela Pérez Mejía, esteve em São Paulo para falar de como as bibliotecas transformaram Bogotá e começam a mudar um país associado à guerrilha, narcotráfico e violência. Em palestra na Biblioteca Mário de Andrade, que passa por processo de modernização, Pérez Mejía falou que a capital colombiana deve muito aos novos espaços de convivência com livros.

Uma rede de ciclovias, de 300 quilômetros de extensão, e o sistema de ônibus articulados, em corredores, servem todas as grandes bibliotecas. "As bibliotecas ditaram os rumos do transporte público", diz Pérez. Alguns dos maiores arquitetos colombianos trabalharam na criação das três novas megabibliotecas, como a Virgilio Barco, desenhada por Rogelio Salmona, e a El Tunal, adaptando antiga usina de tratamento de lixo, por Daniel Bermúdez.

Atualmente está em construção a quarta megabiblioteca municipal, na periferia de Bogotá, graças à doação de US$ 12 milhões feita pela família Santodomingo, a mais rica do país. Será inaugurada em 2008.


LIVROS AO VENTO

Um dos projetos que envolveu toda a cidade, além do numeroso público que freqüenta as bibliotecas, é o "Livros ao Vento". A prefeitura local lança 70 mil exemplares, por edição, em versões de bolso de clássicos de Cortázar, García Márquez, Allan Poe, Tchecov, entre outros, e os distribui nos pontos de ônibus, gratuitamente. Na contracapa, um pedido: que ao terminar a leitura, o livro seja passado para outra pessoa ou deixado em outro lugar público. "Deixe que este livro voe."Outro projeto municipal utiliza postos de leitura, como estantes desmontáveis, que são instalados nos parques da cidade, com 300 livros cada um.

O interesse pelo livro também cresceu para além da capital colombiana. No interior, em plena floresta amazônica, existem os "biblioburros", onde agentes culturais levam coleções ao lombo de burrinhos para emprestar livros nas localidades mais distantes. Também foram criadas pelo governo bibliotecas indígenas.