26 julho 2006

Número de artigos científicos brasileiros cresce 19%

Por Cristina Amorim
em O Estado de S. Paulo
18 julho 2006

O número de artigos científicos publicados por brasileiros cresceu 19% entre 2004 e 2005: passou de 13.313 para 15.777. Contudo, não foi suficiente para tirar o País da 17ª posição mundial. A explicação é clara: todos cresceram com o Brasil; alguns menos, como Rússia (5%), outros mais, como a China (29%) e a Índia (21%).

A conta foi apresentada ontem sem alarde pelo presidente da Coordenadoria de Aperfeiçoamento do Ensino Superior (Capes), Jorge Guimarães, em Florianópolis (SC), durante a reunião anual da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC). Não à toa: apesar de o número de artigos ser relativamente alto, ele não tem o reflexo esperado na geração de riquezas.

Isso porque produção científica não se converte em produtos e serviços. "Quanto a patentes, a posição brasileira é vexatória", diz Guimarães. Além disso, o maior número de depósitos de patentes vem das universidades - a Unicamp, em São Paulo, é a instituição com mais pedidos no País, tendo ultrapassado recentemente a Petrobrás.

Para o presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal do Ensino Superior (Capes), o crescimento numérico deve-se à rigidez que a Capes aplicou na avaliação dos cursos de mestrado e doutorado em Medicina, que nos últimos anos ultrapassou a Física em quantidade de artigos publicados. "Sem cobrança e sem avaliação, a tese ficava na prateleira."Também entra na conta, diz ele, o investimento constante na educação superior nos últimos 40 anos. Contudo, é insuficiente para colocar o País em uma posição agressiva na competição pelo mercado global de pesquisa e desenvolvimento, ou para dar projeção de peso à ciência nacional.

No Brasil, há quatro pessoas que completaram o doutorado para cada 100 mil habitantes. Na Coréia do Sul (o 14º país que mais publicou artigos científicos em 2005 e uma das nações em desenvolvimento que melhor geram produtos a partir da pesquisa), a relação é de 30 doutores. "Não vamos ganhar o Nobel", diz Guimarães. "Não temos liderança científica. Nos EUA, uma equipe conta com 10, 12 pessoas com pós-doutorado. Esta não é nossa filosofia."


INCENTIVO

Ontem, o ministro da Ciência e Tecnologia, Sérgio Rezende, afirmou que R$ 209 milhões serão aplicados, ainda neste ano, em projetos com base tecnológica - a maior parte voltada para sistema de implantação da TV digital no País e fármacos, além de formação de recursos humanos.

Deste valor, R$ 60 milhões serão aplicados em pequenas empresas. Projetos nas regiões Norte e Nordeste receberão uma parcela maior do que os das regiões Sul e Sudeste.Os editais de subvenção são previstos pela Organização Mundial do Comércio (OMC) como instrumentos para empresas investirem em pesquisa e desenvolvimento. O dinheiro é parte da verba destinada aos fundos setoriais que estava sob contingenciamento.

"O setor industrial brasileiro foi formado com capital do campo, conservador, não com base tecnológica. Mudá-lo é um processo lento e é uma pena que o Brasil tenha se atrasado demais", afirma o ministro.Segundo ele, os editais são uma forma de atrair a atenção das empresas para o setor, uma vez que os recursos são aplicados a fundo perdido. A intenção é a geração de dividendos para o País. "Temos de atrair mais gente para a pesquisa."