21 agosto 2006

Coleções particulares e inusitadas viram museus

Por Shaonny Takaiama
em O Estado de S. Paulo
19 agosto 2006

Alguns paulistanos são tão apaixonados por suas profissões ou hobbies que, para preservar a memória de um ofício ou de um tema, criam verdadeiros museus. E colocam todas a relíquias e muitas curiosidades à disposição do público.

Segundo a São Paulo Turismo, há 69 museus na cidade, entre públicos e privados. "Os particulares são muito importantes para a história da cidade porque ajudam a preservar a cultura", diz Cristina Coelho Rocha, museóloga da Prefeitura.

Quem se interessa pela história do relógio, por exemplo, pode ver a evolução desse objeto no Museu do Relógio, que reúne 700 peças. Fundado em 1950, é fruto da coleção pessoal de Dimas de Melo Pimenta. Apaixonado pela arte da relojoaria, ele passava um terço do ano em feiras da Europa. Ao voltar ao Brasil, trazia sempre na bagagem novos itens para o museu, e nunca vendia nenhuma peça.

Perfeccionista, Dimas sempre sabia o lugar exato onde ficavam cada um de seus relógios. Certa vez, ficou exultante ao adquirir um relógio de 1535, peça muito rara por se tratar de um dos primeiros modelos portáteis. "Ele falava para todo mundo: 'Olha esse relógio!", lembra o curador Edson Moura.

Dimas faleceu há 10 anos e dentre as preciosidades de seu museu, atualmente mantido pela família, está um relógio-cafeteira (ao despertar, ele já preparava o café), fabricado nos Estados Unidos, em 1915.

O esteta ótico Miguel Gianinni é outro paulistano que possui um museu particular. "Comecei a trabalhar com óculos aos 13 anos. Aos poucos, me apaixonei pelo design das armações", conta Gianinni, no ramo há 50 anos. Devido ao ofício, ele sempre ganhou óculos antigos de clientes. Alguns dos quais famosos, como a cantora Rita Lee.Aos poucos, a coleção de 50 óculos se transformou em um acervo com 800 exemplares.

Há 9 anos, ele comprou um casarão de 1918 no bairro da Bela Vista, para abrigar sua segunda ótica e o museu. Pelo menos duas vezes por semana, sobe ao andar de cima para lamber as crias - sua peça preferida é um óculos do século 17, que recria o primeiro modelo, fabricado na China, em 500 a.C. Quando traz novas peças ao museu, elas são enviadas ao laboratório para serem ajustadas e higienizadas. "A peça tem de estar perfeita na vitrine", diz Ivani Migliaccio, braço-direito de Gianinni na manutenção do museu.


DENTISTA

A história da odontologia também está retratada numa coleção particular. O museu foi fundado em 1986 pelo dentista Elias Rosenthal, então presidente da Associação Paulista de Cirurgiões Dentistas (APCD). Falecido há 5 anos, Elias era apaixonado pela história da odontologia. Quando viajava ao exterior, voltava maravilhado com os museus odontológicos.

Graças ao seu círculo de amigos, conseguiu doações para formar o museu. "Ele era dedicado vinte e quatro horas a ele. Adorava pesquisar e catalogar as peças, e muitas vezes até as levava para casa para estudá-las", diz Paulo Bueno, curador do museu, que é mantido pela APCD a um custo mensal de R$ 3,5 mil. Para restaurar as peças, Rosenthal muitas vezes tirou dinheiro do bolso. Com cerca de 10 mil itens, o acervo possui preciosidades como instrumentos da Era Cristã.

Para os amantes das invenções, há também um museu. "Viajo muito e lá fora é um berço grande para todo tipo de inovações", diz o proprietário, Carlos Mazzei. Ele gosta tanto do ofício que leva muitas das criações que recebe dos inventores para sua casa. O museu existe há 10 anos e possui cerca de 300 peças. Dentre as maluquices, há um capacete com máquinas fotográficas para tirar fotos em 360° e uma esteira elétrica com laptop para os workaholics. A manutenção do acervo é de R$ 5 mil.