07 agosto 2006

Operadoras nos EUA tentam controlar a internet

em Estadão.com.br
7 agosto 2006

A internet é, desde que foi criada, uma rede neutra. Ou seja, não importa que tipo de conteúdo trafega por ela: cada pacote de informação recebe o mesmo tratamento, seja um resultado de busca do Google, a página do blog de um adolescente ou uma chamada telefônica via Skype.

As grandes operadoras americanas querem mudar isso, dando tratamento preferencial ao conteúdo das empresas que aceitarem pagar por isso. Se isso acontecer, a internet corre o risco de se tornar uma indústria de poucas opções de serviços para o usuário, controlada por grandes grupos, como é hoje o mercado americano de telefonia celular.

A comparação foi feita em um texto publicado no fim do mês passado no site NewsForge. Seu autor adotou o pseudônimo James Glass, pois atua no mercado de serviços via celular e teme retaliação das operadoras. As empresas celulares impõem uma série de restrições aos serviços prestados através de suas redes.

"As exigências variam de operadora a operadora, mas algumas proíbem a oferta de jogos ou premiações, ou exigem que os períodos de assinatura sejam somente mensais: não podem ser diários, semanais ou anuais", escreveu Glass. "Outras exigem que o conteúdo, como toques, sejam protegidos para que os clientes não possam enviá-lo de seu telefone para o de seus amigos."

A Cingular, a Sprint Nextel, a T-Mobile e a Verizon chegam a proibir a captação de fundos para caridade por meio de seus serviços de mensagem de texto. Segundo Glass, caso a neutralidade da internet chegue ao fim, as operadoras podem decidir impor esse tipo de restrição ao internauta.

A MIT Technology Review trouxe ontem outro exemplo de como a ausência de neutralidade de rede prejudicou o acesso à comunicação no passado. A Western Union adquiriu concorrentes durante a Guerra Civil americana e, em 1866, alcançou uma posição próxima do monopólio. A partir disso, impediu o desenvolvimento de concorrente e bloqueou a entrada dos Correios no mercado.

Durante duas décadas, a empresa manteve o foco nos clientes empresariais, impedindo a inovação que poderia tornar o serviço acessível ao cliente final. "Em ambos os casos, as empresas dominantes tentaram explorar sua posição existente ao invés de inovar", afirmou Paul Star, historiador social da Universidade de Princeton, à MIT Technology Review.

No Brasil, a discussão ainda está no começo. "Ainda não nos posicionamos", afirmou Luis Cuza, presidente-executivo da Associação Brasileira das Prestadoras de Serviços de Telecomunicações Competitivas (Telcomp). Sua equivalente americana, chamada Comptel, é uma das defensoras da neutralidade da rede lá. "O assunto está ligado a questões comerciais, de inclusão digital e até de livre acesso à informação", destacou Cuza.

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