14 agosto 2006

Os donos da internet

Por Ernesto Rinaldi
em Superinteressante
Agosto 2006

A rede foi projetada para resistir a uma guerra nuclear. Mas agora sofre com algo mais ameaçador: a fúria das empresas de telecomunicações. Elas querem acabar com a igualdade de condições entre todos os sites conectados à web. A coisa é simples: as gigantes de telecom, como a americana AT&T, controlam boa parte da infra-estrutura da rede (os cabos que conectam países e continentes). E agora elas querem fazer valer esse "direito de propriedade" cobrando taxas. Na prática, só os sites que pagarem uma tarifa mensal teriam a garantia de acesso rápido. Já os que não colocarem a mão no bolso podem acabar com páginas mais lentas.

"Essas empresas estão com a cabeça no século 19", afirma o engenheiro americano Vinton Cerf, um dos criadores da internet. Imagine pagar por uma conexão com velocidade de 500 Kbps, por exemplo, e descobrir que ela fica mais lenta quando você entra em alguns sites. Você tem de receber pela conexão que pagou. A proposta das empresas de telecomunicações deve ir a votação no Senado americano em setembro.

Gigantes da rede, como o Google, cogitam processar as telecoms. E não faltam usuários revoltados: o movimento Save the Internet, por exemplo, organiza um abaixo-assinado virtual, que já tem mais de 1 milhão de assinaturas. "A ameaça é que companhias determinem, por razões comerciais, o que você pode e o que você não pode acessar", diz Tim-Berners Lee, outro criador da rede.

As empresas de telefonia se defendem: o "imposto" seria uma forma de obter mais retorno pelo que elas investem. Só a AT&T gastou 11,5 bilhões de dólares com a infra-estrutura da web no último ano. Mas o objetivo central, dizem os especialistas, é outro: barrar o crescimento da telefonia via internet, bem mais barata que a tradicional, e que pode ser cortada pelas telecoms se a medida passar. O jornalista de tecnologia Robert Cringely, um dos mais influentes dos EUA, resume: "A telefonia é um negócio de 1 trilhão de dólares. Não é surpresa que desejem reassumir o controle".

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