16 outubro 2006

Google leva YouTube por US$ 1,6 bilhão

em Estadão.com.br
10 outubro 2006

O Google, líder de buscas na internet, anunciou nesta segunda a compra do YouTube, o site de vídeo mais popular da rede, por US$ 1,65 bilhão em ações. Segundo analistas, a compra garante ao Google uma posição privilegiada no mercado nascente de anúncios de vídeo pela internet, onde ele tinha uma participação pequena comparada ao Yahoo! e a novos concorrentes.

Ontem, as ações do Google subiram 2% na bolsa eletrônica Nasdaq, fechando a US$ 429, preço que não alcançava desde o fim de abril. A aquisição foi anunciada logo depois do fechamento da bolsa. Na sexta, os papéis já haviam subido 2%, depois que saíram notícias sobre a possível compra do YouTube pelo Google. Nos últimos dois dias, o Google ganhou quase US$ 4 bilhões em capitalização de mercado. Mais que o dobro do que a empresa ofereceu pelo YouTube.

'O YouTube é fenomenalmente valioso em termos de tráfego, o que é tão importante na internet quanto a localização é importante no mercado imobiliário´, afirmou o analista Sasa Zorovic, da Oppenheimer. ´O YouTube tem quase 50% do mercado de vídeo na internet. Combinado com o Google Video, eles terão perto de 60% do tráfego.´ O analista considerou o preço de acordo com a avaliação de empresas de internet.

Criado em fevereiro de 2005, o YouTube tornou-se extremamente popular desde novembro, ao permitir que os usuários compartilhassem vídeos feitos em casa ou tirados da televisão. Durante todo o ano houve especulações sobre a compra do YouTube. Os candidatos incluíam a Microsoft, o Yahoo, a News Corp. e a Viacom (dona da MTV).

´Financeiramente, o Google está sentado em uma pilha de US$ 10 bilhões em dinheiro, e o preço ficou dentro da expectativa´, afirmou Steve Neimeth, gerente de investimentos da AIG SunAmerica Asset Management. O YouTube exibe cerca de 100 milhões de vídeos diariamente, e tem chamado atenção de grandes companhias de comunicação por causa de material com direitos autorais que aparecem em suas páginas sem permissão.

Ontem, a Universal Music e a Sony BMG assinaram um acordo de distribuição com o Google. O mesmo havia sido feito pela Warner Music no mês passado, o que reduz a possibilidade de ações na Justiça.

Apesar de os analistas não terem se surpreendido com o preço, o acordo com o YouTube, uma empresa iniciante que ainda não dá lucro, foi a maior aquisição já anunciada pelo Google em seus oito anos de existência. ´Somos parceiros naturais para oferecer um serviço de entretenimento interessante para os usuários, empresas de conteúdo e anunciantes´, afirmou o presidente do Google, Eric Schmidt.


IDENTIDADE

O YouTube manterá a marca e seus 67 funcionários, incluindo os co-fundadores Chad Hurley, de 29 anos, e Steve Chen, de 27 anos. O negócio deve ser finalizado até o fim do ano.

´Estou confiante que, com esta parceria, teremos a flexibilidade e os recursos necessários para alcançar nosso objetivo de construir a plataforma de nova geração para oferecer mídia em todo o mundo´, disse Hurley, presidente do YouTube. Antes do Google, o site havia recebido somente US$ 11,5 milhões em investimento de risco.

´Este acordo dá ao Google o espaço em vídeo que eles têm procurado e dá a eles uma grande oportunidade de redefinir como a publicidade é feita´, afirmou a analista Charlene Li, da Forrester Research. A aquisição pode pressionar o Yahoo a fechar a compra da Facebook.com, segundo maior site de rede social do mundo. Foi noticiado que o Yahoo chegou a oferecer US$ 1 bilhão pelo site.

´O Yahoo precisa ir em frente e fazer alguma coisa´, afirmou Roger Aguinaldo, que publica a newsletter M&A Advisor. ´Ele está se tornando menos relevante e parecendo menos inovador a cada dia.´ Em agosto, a audiência do YouTube chegou a 72,1 milhões, comparada a 2,8 milhões no mesmo mês de 2005, segundo a comScore Media Metrix.

Com o Google, o YouTube pode finalmente encontrar um modelo de negócios. Mês passado, a revista Economist citou um concorrente que calculava perdas mensais de US$ 500 mil para o YouTube, que, sem fonte de receita, precisa gastar bastante em comunicação e armazenamento de dados.

Depois do estouro da bolha de internet, em abril de 2000, o discurso dos investidores passou a ser de que só havia espaço para empresas sólidas e lucrativas. No entanto, o eBay comprou ano passado o Skype, que havia faturado US$ 7 milhões em 2004, por até US$ 4,1 bilhões. E agora o Google anunciou a compra do YouTube, cujo trunfo foi a audiência. Ou os globos oculares, como eles falavam em 1999.