16 outubro 2006

Missão de reconhecimento

Por Thiago Romero
em Agência FAPESP
5 outubro 2006

Entre os meses de maio e junho deste ano, um avião Bandeirante do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) sobrevoou os estados do Pará, Tocantins, Mato Grosso, Rondônia, Acre e Amazonas. A missão teve um objetivo muito bem definido: fazer um registro fotográfico dos recursos naturais da Amazônia para estudos sobre ordenamento territorial, dinâmica populacional e biodiversidade da floresta.

Trata-se do Projeto Videografia Digital, promovido pela Rede Temática de Pesquisa em Modelagem Ambiental da Amazônia (Rede Geoma), programa de pesquisa do Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT). O projeto acaba de ganhar um site na internet.

Em uma abertura na parte inferior da aeronave foi instalada uma câmera de vídeo digital que registrou 40 horas de gravação. As cenas foram transformadas em quase 40 mil imagens em formato jpeg, que a partir de agora podem ser vistas e usadas livremente por qualquer interessado no assunto.

“Essas imagens representam um nível intermediário entre os dados de campo, nas quais não é possível ter uma visão ampla dos biomas, e as imagens de sensoriamento remoto que, por serem captadas em uma altitude bem maior, não fornecem uma visualização rica em detalhes”, disse Maria Isabel Escada, pesquisadora da Divisão de Processamento de Imagens do Inpe à Agência FAPESP.

O trajeto da aeronave foi definido em função dos interesses específicos de cada um dos grupos da Rede Geoma: Dinâmica de Uso e Cobertura da Terra, Dinâmica Populacional, Assentamentos Humanos e Biodiversidade.

As imagens no site podem ser consultadas pelas categorias “Mapa”, “Região (Latitude/Longitude)”, “Município”, “Trecho” e “Faixa”. Na categoria “Mapa”, uma imagem de satélite com nomes dos municípios fornece uma referência inicial ao pesquisador. Um clique no ícone da região de interesse é suficiente para abrir as fotos.

“No município de Manicoré (AM), por exemplo, o avião conseguiu sobrevoar mais baixo e registrou detalhes das copas das árvores. Com isso, poderemos estudar o tipo de formação vegetal e os gêneros predominantes da região”, explica Maria Isabel, que também coordena o grupo Dinâmica de Uso e Cobertura da Terra do Geoma. Para visualizar as fotos de Manicoré, basta digitar o número 120 na categoria “Faixa”.


NOVOS VÔOS

Outro exemplo de aplicação das imagens do Projeto Videografia Digital está no encontro entre os rios Xingu e Iriri, no estado do Pará, região que nos últimos anos tem expandido suas fronteiras agrícolas sem um plano de gestão territorial. Em 2005, o Ministério do Meio Ambiente criou um mosaico de unidades de conservação para a região.

“Com as imagens poderemos realizar estudos sobre a ocupação dessa nova frente de expansão, incluindo o nível de desflorestamento e o mapeamento dos núcleos populacionais. Outra pesquisa irá analisar a possibilidade de asfaltamento de alguns trechos da BR-319, que vai de Porto Velho a Manaus. O objetivo é levantar todos os riscos de perda de biodiversidade”, explica Maria Isabel.

Essa primeira fase do projeto englobou uma área mais abrangente da floresta, por ter sido um sobrevôo inicial de reconhecimento. “Os próximos vôos, que ainda não têm data para ocorrer, terão foco em áreas específicas, de acordo com o andamento de cada grupo da Rede Geoma”, afirma Maria Isabel.

Para ter acesso às imagens, o usuário precisa se cadastrar fornecendo um endereço de e-mail. Além do Inpe, o Projeto Videografia Digital foi conduzido pelo Museu Paraense Emílio Goeldi (Mpeg) e pelo Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia (Inpa). Integram ainda a Rede Geoma o Laboratório Nacional de Computação Científica (LNCC), o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), o Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF) e o Instituto de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá.