10 janeiro 2007

Biblioteca montada por ex-analfabeto possuí acervo de 10 mil livros

Por Candice Alcântara
em Correio Braziliense
7 janeiro 2007

A biblioteca comunitária montada pelo ex-analfabeto e hoje técnico de ar-condicionado Luís Rodrigues de Lima, 43 anos, não pára de crescer. Desde que o Correio contou a história dele em 21 de setembro do ano passado, os 3.500 livros iniciais se multiplicaram e hoje somam mais de 10 mil. Além disso, a biblioteca ganhou quatro computadores e está à espera de outros 10, que serão utilizados em um centro de inclusão digital. Luís já perdeu a conta de quantas ligações recebeu para parabenizá-lo - para lá de 200. Foram muitos professores, escritores e gente comum, mas, como ele faz questão de destacar, "nenhum parlamentar ligou, se interessou".

Os frutos colhidos não pararam por aí. Luís ministrou palestras em duas faculdades da cidade. Doou 2.400 publicações para a recém criada biblioteca em sua cidade natal, Capinzal, no interior do Maranhão. Aceitou a ajuda de um estudante de biblioteconomia da Universidade de Brasília (UnB) para catalogar as obras. E, com o apoio de um banco, planeja montar uma ONG de inclusão digital. "Depois da primeira matéria minha vida mudou completamente. Estou muito feliz, não tem dinheiro que pague essa satisfação. Quero continuar meu trabalho expandindo a biblioteca e criando novos projetos. Quanto mais gente ajudando, melhor", conta.

Na tarde de ontem, Luís recebeu novas doações. Dessa vez, funcionários de uma empresa se mobilizaram para incentivar o trabalho do maranhense. Ao todo, foram arrecadados e doados mais de 450 livros, além de estantes para facilitar a organização. "Quando vimos a reportagem resolvemos ajudar. Ele tem um trabalho de efeito multiplicador. É um belo exemplo de que quando se quer, tudo é possível", diz Luciana Almeida, gerente de comunicação da empresa.

Luís não economizou sorrisos ao ver o caminhão com as doações estacionar em frente à casa e já fez planos para as novas aquisições. "A estante eu quero montar hoje (ontem) mesmo e, dependendo do que receber, vou mandar parte dos livros para o Norte", prevê. Com as doações e os novos projetos, o ex-analfabeto tem muito trabalho para o ano que começa. Na lista de metas estão novas palestras, a expansão da biblioteca, a criação de outras e, principalmente, o incentivo de adultos à leitura e aos estudos. "Vou sair de colégio em colégio buscando ajudar gente da minha idade. Além disso, vou cobrar que as mães que trazem os filhos para pegar um livro escolham um para elas também", diz.