30 janeiro 2007

Livro custa caro (também para as editoras)

Por Sérgio Pinto de Almeida
em Leia Livro
22 janeiro 2007

A historinha é simples e sugere reflexões. Foi assim... Em maio de 2004 a Editora Papagaio recebeu um “zémeio” da bibliotecária da Faculdade São Luiz. Pra quem não sabe, a São Luiz é uma das “faculdadonas" do país. Tem mais de 58 anos, está instalada em prédio próprio, grande, majestoso, em plena Av. Paulista, e dá aula para boa parte da elite paulistana nas áreas de administração, ciências contábeis e ciências econômicas. Cobra bem e é tida como faculdade de rico.

Muito bem, mesmo assim a bibliotecária mandou seu singelo “zémeio” pedindo.... livros. Isso mesmo, que a modesta Editora Papagaio doasse livros para ajudar a biblioteca da poderosa faculdade e assim atendesse o desejo dos alunos que cobravam títulos fora das áreas técnicas, especialmente literatura.

O primeiro impulso foi simplesmente desprezar a mensagem. Mas respondi afirmando que a editora não faz doações. E se o fizesse seria apenas para faculdades públicas brasileiras, carentes de verbas e sofrendo eterna crise financeira. Afirmei ainda que caberia ao corpo dirigente da São Luiz destinar verbas suficientes para ampliar o acervo de sua biblioteca.

A bibliotecária ainda retrucou, discordando, e contando que sabia que doar livros era uma prática das editoras, portanto... não custava pedir.

Mantive a negativa e encerrei a conversa. Mas a partir desse episódio lembrei de outra história, atribuída à famosa atriz Cacilda Becker que tinha por princípio não distribuir convites para seus espetáculos e justificava:

– Não posso dar de graça a única coisa que sei fazer.

E outra ainda, de Carlos Lacerda, ele mesmo, O Corvo da política brasileira e fundador da editora Nova Fronteira. Certa vez, depois de deixar o mercado financeiro, Lacerda encontrou seus antigos companheiros de finanças, e ouviu de um deles a queixa de que não tinha recebido nenhum livro de presente da nova editora. Ao que Lacerda respondeu:

– Engraçado, eu também não ganhei nenhuma letra de câmbio de vocês...

Assim é. Todo mundo pode pedir doações para as editoras, afinal, o pedido “é para divulgar a literatura, a cultura”, e por aí vai. E dá-lhe pedidos de jornalistas, escritores, igrejas, ONGs, bibliotecas, penitenciárias, associação de amigos de bairro, cursinhos e por aí afora. Uma festa!

Por que será que essas mesmas entidades não pedem um carro zerinho pra Volks quando ela lança um novo modelo? Por que não um apartamento pra Coelho da Fonseca em um novo empreendimento? Ou um “quarto completo” pras Casas Bahia?

Será que se eu fechar a Papagaio e abrir um bar muita gente vai pedir um trago de graça? Ou vai aparece alguma entidade pedindo uma porção de queijo com um pouquinho de azeite e uma pitada de orégano?

1 Comments:

At 07 fevereiro, 2007 16:36, Blogger Flávia said...

Sobre a doação de livros, acredito que esse ponto de vista é válido. Mas as afirmações sobre a Faculdade São Luís estão completamente equivocadas. O autor com certeza desconhece a Faculdade, que tem em sua maioria, alunos de origem humilde, bolsistas, que trabalham na região da Paulista e estudam à noite.

 

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