30 janeiro 2007

"Wikipédia dos massacres" chega à internet neste ano

Por France Presse
em Folha Online
15 janeiro de 2007

A primeira enciclopédia on-line dedicada aos episódios de violência em massa que marcaram o século 20 --do Holocausto judeu ao genocídio ruandês-- será lançada em 2007, graças ao trabalho de uma equipe internacional reunida em um centro de pesquisas francês.

"Em matéria de destruição de populações civis, o século 20 foi um dos mais homicidas da História", disse Jacques Semelin, professor do Centre d'Études et de Recherches Internationales (Ceri - Centro de Estudos e de Pesquisas Internacionais), paralelamente a uma conferência em Marselha (sudeste francês).

A atualidade testemunha isso: em Bagdá, o julgamento de seis ex-responsáveis pelo regime de Saddam Hussein, acusados do massacre de cerca de 180 mil curdos em 1987/1988, recomeçou nesta semana, enquanto o Tribunal Penal Internacional (TPI) para a antiga Iugoslávia julga um dos supostos responsáveis pelo cerco a Sarajevo, que deixou milhares de civis mortos entre 1992 e 1995.

"Nenhuma base de dados reuniu nossos conhecimentos. A enciclopédia deve preencher esta lacuna", explica Semelin.

Autor de uma imponente obra sobre a gênese dos crimes de massa, "Purifier et détruire" (Purificar e destruir), Semelin reuniu 40 pesquisadores do mundo inteiro, entre eles especialistas do estudo de genocídio como a americana Samantha Powers e o alemão Dieter Pohl, para realizar este projeto único, lançado em 2004.

"Mexemos com dinamite", reconhece. A interpretação dos acontecimentos históricos suscita polêmica com freqüência. Fora dos revisionismos, as manipulações da história dos massacres são numerosas, sem contar as divergências de opinião na classificação de genocídio.

Para evitar esses tropeços, a metodologia da enciclopédia (disponível no site www.massviolence.org) será "sumamente rigorosa", destaca Semelin.

O site vai dispor de índices cronológicos, estudos de casos por países e contribuições teóricas sobre o genocídio e os crimes contra a humanidade. "Um comitê científico validará as contribuições. Não queremos correr nenhum risco com a credibilidade das informações", completa.

ORGANIZAÇÃO

Um sistema de estrelas indicará o nível de conhecimentos disponíveis: uma estrela quando a existência de massacres for conhecida, mas não a identidade de seus autores; duas estrelas para os trabalhos de jornalistas e ONGs; e três para os estudos antropológicos, sociológicos, históricos ou jurídicos.

Os textos deverão explicar de maneira clara, tanto para um francês como para um chileno, os massacres de tasmanianos. Esta base de dados estará em inglês, mas os estudos de casos estarão traduzidos na língua do respectivo país.

"Meu sonho é que um jovem descubra neste site que em seu país aconteceram coisas que ignorava ou que lhe apresentaram de maneira deformada", completou. O acesso à enciclopédia será gratuito.