05 março 2007

Bloqueio no ciberespaço

Por Fernando García
Tradução de Luiz Roberto Mendes Gonçalves
em La Vanguardia
15 fevereiro 2007

Navegar pela Internet nem sempre é fácil no Caribe. Em Cuba, o acesso à rede é lento, caro e limitado. O bloqueio dos EUA impede que a ilha se conecte aos cabos de fibra óptica que passam muito perto de suas costas, como informou nesta quarta-feira (14) o ministro cubano de Informática e Comunicações, Ramiro Valdés Menéndez, ao inaugurar em Havana a Convenção e Exposição Internacional Informática 2007.

Como alternativa, Cuba utiliza uma ligação via satélite que torna as conexões mais lentas e caras. O governo alega essa condição, assim como sua estratégia de prioridades sociais no uso da rede, para explicar as restrições que aplica ao acesso à Internet. Limitações que poderão ser reduzidas em poucos anos por meio de um link submarino alternativo que conectará Cuba à rede da Venezuela. A Internet entra em cheio na geopolítica da região.

O canal via satélite que Cuba utiliza, habilitado em 1996, proporciona uma largura de banda muito pequena em comparação com o cabo (65 megabytes por segundo de download e 124 de upload). Qualquer modificação do canal exige licença do Departamento do Tesouro dos EUA.

As leis do bloqueio americano "não só nos proíbem a aquisição de equipamentos e programas de informática de companhias americanas, como, por seu caráter extraterritorial, perseguem nossas operações com empresas de outros países", queixou-se o ministro Valdés, um histórico do governo e comandante da revolução liderada pelo agora convalescente Fidel Castro.

As ações e intervenções americanas nessa guerra informática incluem, segundo Havana, a proibição de que instituições e cidadãos americanos utilizem a web para transações eletrônicas com instituições cubanas, assim como o bloqueio de downloads de software e informações (inclusive gratuitas) se o número IP for identificado com Cuba. As autoridades do país caribenho acreditam que, além disso, as empresas provedoras de serviços e tecnologias fornecem informação aos órgãos de inteligência dos EUA, o que torna necessário um "constante aumento dos níveis de segurança" das redes na ilha.

O problema dos custos não é menor. Cuba paga mais de US$ 4 milhões por ano por um link com a Internet que, além de ser mais lento e ter menor capacidade, sai de 15% a 25% mais caro que o do cabo.

Havana não oculta suas restrições ou "medidas de segurança e controle" no fornecimento de acesso à Internet, as quais dificultam a contratação de serviços de Internet; mas as justifica nessa situação de excepcionalidade criada pelo embargo americano.

Como o link por satélite é precário, o governo optou pelo que chama de estratégia de "apropriação social das tecnologias da informação", que dá prioridade às comunidades científicas, educativas e culturais. Diante de relatórios internacionais que situam Cuba nos últimos lugares em penetração da Internet, Havana enfatiza o rendimento social que obtém dessa utilização comunitária.

"O cavalo selvagem das novas tecnologias pode e deve ser domado, e as telecomunicações devem ser postas a serviço da paz e do desenvolvimento", resumiu ontem Valdés.

Cuba e Venezuela assinaram em 24 de janeiro um acordo para estender de costa a costa em cerca de dois anos um cabo óptico de 1.550 quilômetros. É a vertente tecnológica da aliança cada vez mais notória entre os dois países e seus líderes.