06 março 2007

Periódicos científicos: criado há dez anos, site brasileiro foi pioneiro

Por Miguel Conde
em Jornal da Ciência
26 fevereiro 2007

Este ano uma organização pioneira na promoção do acesso livre à pesquisa científica completa uma década de existência : a “Scientific Eletronic Library Online”, ou “Scielo”. Apesar do que o nome possa sugerir, a Scielo foi criada no Brasil, mais exatamente em São Paulo. É uma biblioteca digital que reúne artigos de mais de 350 publicações de diversos países (quase a metade do acervo é do Brasil).

“Começou em 1997 com dez revistas. Hoje temos mais de 350 revistas on-line, mais de 100 mil artigos e mais de oito milhões de visitas a artigos por mês”, enumera Abel Packer, diretor da Bireme, órgão da Organização Panamericana da Saúde, que coordena a Scielo em parceria com a Fapesp e, desde 2002, com o CNPq.

“Estamos entre as dez fontes de informações mais acessadas no Google Scholar.”

Embora seja extensamente utilizada por pesquisadores brasileiros, a Scielo nasceu como uma tentativa de dar maior visibilidade, no exterior, à produção científica nacional.

“Com o crescimento dos números de publicações científicas, começaram a surgir organizações que indexam os artigos e tentam medir quais são as publicações de mais impacto. Esse é um índice que se calcula a cada ano. Se você está fora do índice, é quase como se você não existisse para a comunidade científica internacional. O que surgiu nesse processo foi um fenômeno que ficou conhecido como a ciência oculta dos países em desenvolvimento.”

A Scielo nasceu porque grande parte das revistas brasileiras e latino-americanas não estão adequadamente representadas nesses índices, diz Packer. A língua é uma barreira, ele afirma.

Roberto Lent, diretor do instituto de Ciências Biomédicas da UFRJ, concorda:

“Publicar em português apenas não adianta. Você tem que publicar duas vezes: uma versão numa revista em inglês e outra para divulgação científica”, afirma Lent, um dos diretores do Instituto Ciência Hoje e da editora Vieira e Lent.


GOVERNO ORGANIZA BIBLIOTECA DE TESES E DISSERTAÇÕES

O governo brasileiro também coordena, por meio do Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) um instrumento importante de divulgação científica:

a Biblioteca Digital de Teses e Dissertações (BDTD). Criada em dezembro de 2002, no final do governo Fernando Henrique Cardoso, a BDTD já conta com o texto integral de mais de 30 mil teses e dissertações de 57 Universidades brasileiras.

“A BDTD dá aos trabalhos acadêmicos uma visibilidade que eles em geral não têm. A Unicamp, universidade com mais registros na biblioteca, fez uma medição dos textos mais acessados. Eram duas teses da faculdade de Educação. Uma sobre indisciplina na escola, que teve 6 mil acessos e outra sobre tecnologia educacional, com 4 mil. Algumas pessoas relutam em botar a tese na BDTD porque acham que facilita o plágio. Pelo contrário. Com o registro, é mais fácil descobrir se o trabalho for copiado”, conta Hélio Kuramoto, coordenador geral de Pesquisa do Ibict.