10 abril 2007

Acesso eletrônico a informação 2

Por Hélio Kuramoto

É conhecido, no âmbito da comunidade científica, as dificuldades para se ter acesso à informação científica, em especial àquela publicada em revistas científicas comerciais. A manutenção de acervos de coleção dessas revistas envolvem recursos na ordem de milhões de dólares, portanto um alto investimento anual. Esse cenário de dificuldades não aflige apenas as bibliotecas ou os nossos pesquisadores. O mundo todo convive com esse problema e vem enfrentando a denominada "crise dos periódicos científicos". Essa crise envolve não apenas fatores econômicos, mas outros fatores ligados ao tradicional fluxo da comunicação científica. Essa insatisfação da comunidade científica fez deslanchar o movimento do acesso livre à informação científica.

O Instituto Brasileiro de Informação em Ciência e Tecnologia (Ibict) vem acompanhando todas as ações e iniciativas desse movimento. Em consequência, o Ibict adotou uma linha de ação que visa implantar no país iniciativas para propiciar o acesso livre à informação científica no país. Não se pode falar dessas iniciativas sem antes mencionar a iniciativa pioneira que se insere nesse contexto, que é o SciELO, primeira grande iniciativa de acesso livre no país.

O Ibict se preparou tecnologicamente para isso e vem desenvolvendo e implantando diversas ações. Além disso, o Instituto tem transferido para a comunidade provedora de informação científica os conhecimentos adquiridos com o uso e desenvolvimento dessas tecnologias. O Ibict introduziu no país o uso do modelo Open Archives. Um exemplo de sucesso dessa iniciativa é a Biblioteca Digital Brasileira de Teses e Dissertações (BDTD), uma das três maiores bibliotecas digitais de teses e dissertações no mundo, integrando 57 universidades e totalizando um acervo de mais de 38 mil teses e dissertações em texto integral.

Após esse empreendimento, o Instituto absorveu, adaptou e vem transferindo à comunidade provedora de informação tecnologias para a construção de publicações periódicas científicas eletrônicas (Sistema Eletrônico de Editoração de Revistas - SEER), tecnologias para a construção de repositórios institucionais e temáticos (DSpace e Eprints). Todas essas tecnologias são compatíveis com o modelo Open Archives, base tecnológica que suporta o movimento do acesso livre à informação científica. Como consequência desse esforço, existem hoje no país mais de 170 periódicos científicos utilizando o SEER, e várias iniciativas de construção de repositórios institucionais utilizando o DSpace e o Eprints.

Para integrar todas essas revistas eletrônicas e repositórios, inclusive o SciELO, o Ibict vem desenvolvendo o Portal Oasis.br (Open Access Scholarly Information System), em conformidade com o modelo Open Archives, e que hoje conta com mais de 100 mil registros. A idéia é que em breve, com a aquisição e instalação de um servidor dedicado a esse portal, ele comece a fazer o harvesting ou coleta de metadados de repositórios internacionais como o DOAJ, que hoje conta com mais de 2.500 revistas eletrônicas, o Oaister e outros portais de repositórios de acesso livre internacionais.

O fato é que ao disponibilizar esse conjunto de tecnologias, de repositórios, publicações eletrônicas e portais de acesso livre, qualquer usuário brasileiro, latino-americano, lusófonos ou qualquer outro estrangeiro terão acesso a essa informação, pela internet, de forma livre e sem qualquer barreira de preços. Essas iniciativas eliminam, portanto, a necessidade de se fazer acordos de cooperação técnica para que se possibilite o acesso à informação científica. Trata-se de uma abordagem aberta e aderente a uma orientação mundial que são as iniciativas open... open source, open access...

Nesse contexto, o Ibict vem articulando a criação de uma política nacional de acesso livre à informação científica. As ações desenvolvidas já delineam essa política. O Ibict lançou em setembro de 2005, o manifesto brasileiro de apoio ao acesso livre à informação científica. As ações apresentadas e as recomendações constantes desse manifesto deverão ser a base dessa política.