10 abril 2007

Em busca de obras raras desaparecidas

Por Selma Schmidt
em Jornal da Ciência
4 abril 2007

Técnicos da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) estão checando, uma a uma e página por página, as 70 mil obras científicas raras — entre livros, periódicos, teses, atlas, folhetos e monografias — que pertencem ao patrimônio da Biblioteca de Manguinhos, criada por Oswaldo Cruz no início do século passado.

O inventário detalhado foi determinado pela diretora do Centro de Informação Científica e Tecnológica da Fiocruz, Ilma Noronha, assim que tomou conhecimento de que algumas das obras tinham sido furtadas.

O acervo da Fiocruz inclui material impresso, especialmente sobre temas biológicos, médicos e de história natural.

A descoberta de peças com carimbo da Fiocruz, na fronteira do Brasil com a Argentina, foi noticiado ontem por Joaquim Ferreira dos Santos, na coluna Gente Boa, no Globo. Mas, na verdade, elas são apenas parte das obras apreendidas pela alfândega argentina, no início deste ano.

Entre elas, há 39 livros com mais de cem anos sobre história natural, nos idiomas inglês, francês e alemão; e um livro de fotografias, de origem argentina, que tem uma dedicatória manuscrita por José Maria Gutiérrez para Quintino Bocayuva.

Há ainda 42 gravuras da metade do século 19, com imagens de felinos; e sete lâminas com gravuras de paisagens e sítios históricos da Argentina do século 19.

Segundo a delegada federal Vanessa Gonçalves Leite de Souza, da Interpol, o que foi apreendido se encontra com a alfândega argentina. Além da Fiocruz, a Biblioteca Pública do Paraná também identificou como suas algumas das peças.

“Ainda não fomos informados em quais circunstâncias esse material foi apreendido, e se há alguém preso. Também não sabemos se o que for comprovadamente de instituições brasileiras será devolvido por via judicial ou por via diplomática”, explicou a delegada federal.

A reprodução de páginas de livros e gravuras apreendidos está disponível no site do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

Através de um acordo de cooperação técnica com a Polícia Federal e a Interpol, o Iphan está divulgando o material pela internet, para facilitar a identificação pelos responsáveis por acervos.

Embora sejam obras raras, o material furtado e que foi reconhecido como do acervo da Fiocruz — três livros científicos, dois atlas e figuras de uma monografia — não é tombado pelo Patrimônio Histórico.

Os três livros são de história natural e tratam especialmente de insetos: um, em holandês, de Caspar Stoll, foi publicado entre 1780 e 1788; outro, foi escrito pelo francês Palisot de Beauvois, entre 1805 e 1821; e o terceiro, do inglês Drury, data de 1770 a 1782.

Entre o material identificado como da Fiocruz, o atlas francês de zoologia de François Louis Auguste Souleyet é do período compreendido entre 1841 e 1852.

Já o atlas de insetos, do alemão Karl Gustav Jablonsky, é mais antigo: foi publicado entre 1783 e 1804. Também com gravuras furtadas, a monografia sobre felinos, em inglês, foi escrita em 1883, por Daniel Giraud Elliot.