12 julho 2007

Confissões de um observador privilegiado

Por Aldo Barreto

O historiador Eric Hobsbawm analisando o século XX diz que, nos seus últimos cinqüenta anos a humanidade viu inserir no seu convívio mais inovações do que em todo o resto da sua história. Fatos muito importantes aconteceram, particularmente, no período entre 1945 ate 1948 quando uma bolha de inovação inseriu no contexto: a fissão nuclear que produziu a primeira bomba atômica; foi desenvolvido, o Eniac e depois o Univac-1, o primeiro computador de aplicação geral; Alexander Fleming recebeu o prêmio Nobel, pela descoberta da Penicilina; um avião voou mais rápido do que o som; foi inventado o transistor; foi fundada a Unesco; Norbert Wainer publicou Cybernetics onde discursou sobre a teoria matemática da informação e Vannevar Bush publicou "As we may think".

Acabava a guerra e a informação mantida secreta naquele período seria colocada a disposição do mundo. Designado pelo presidente Roosevelt o Dr. Vannevar Bush, entre 1938 a 1942 dirigiu o Comitê Nacional de Pesquisa depois Office for Scientific Reserach and Development; sua missão foi juntar cientistas americanos e europeus para direciona-los ao esforço aliado de guerra. Em 1945, Dr. Bush escreveu "As we may think" sobre o problema da informação em ciência e tecnologia e possíveis entraves que haveria em organizar e repassar a sociedade às informações mantidas secretas durante a guerra.

Os obstáculos seriam estruturais: a formação dos recursos humanos na área de informação estava ultrapassada , também, o seu instrumental de armazenamento e recuperação e a teoria existente, não dava conta, de explicar como organizar e controlar o que seria uma explosão de informação.

O artigo apareceu primeiro em 1939, em uma carta ao editor da Revista Fortune, teve sua histórica versão no periódico Atlantic Monthly e depois a Revista Life fez varias observações e chamadas sobre o trabalho. Era o máximo de exposição na midia considerando o potencial da época.

Vannevar Bush pode ser considerado o precursor da ciência da informação e 1945 sua data fundadora com a publicação do seu artigo que modifica o paradigma do campo da informação em ciência e tecnologia e que envolvia seus profissionais, seus instrumentos e as condições teóricas da representação da informação para processamento e armazenagem.

Bush introduziu a noção de associação de conceitos na organização da informação, pois assim via o padrão com que o cérebro humano funcionava para transformar informação em conhecimento. Indicou que os sistemas de classificação e indexação.existentes eram limitativos e não intuitivos.

As suas idéias, na época, provocaram tamanho frisson que foram parar em Londres. Em 1946, um ano após o término da segunda guerra foi realizada em Londres a “Royal Empire Society Scientific Conference”, que levou à realização em 1948 da Royal Society Scientific Information Conference.

Os cientistas de quase todas as áreas tinham propostas para resolver os problemas da gestão da informação, mas para não de perder o seu status acadêmico ao se juntar a uma nova área, esta foi criada com o nome de ciência da informação. Os resultados da Conferência de Londres , apesar das 723 páginas dos seus Anais, ficaram muito perto dos problemas apontados por Vannevar Bush em seu artigo de 15 páginas.

Assim em 1945, surgia, com o artigo de Bush, depois formalizado na Conferência de 1948, a Ciência da Informação. Um ano após a Conferência da Royal Society de Londres Jason Farradane, J. Bernal , S.C. Bradford, Mortimer Taube, Brian Vickery e outros criaram o Institute for Information Scientists para acolher os novos cientistas e as novas idéias surgidas na área.

Nesta mesma época, em 1952, foi criada por este grupo dos cientistas da informação o Classification Research Group destinado a propor teorias emergentes para armazenar e recuperar a informação; o problema da época era o grande volume de informação e sua gestão. Os profissionais que fundaram o “Institute for Information Scientists” fundaram sob o comando de Jason Farradane o primeiro curso pós-graduação em de ciência da informação na The City University, anteriormente o Northampton College of High Technology, localizado na City de Londres, Inglaterra.

Quanto ao computador a ciência da informação só teve acesso a máquina, perto de trinta e cinco anos depois do artigo de Bush, quando o custo da memória magnética permitiu o processamento de textos.

Michael Lesk em seu artigo famoso "As 7 idades da ciência da informação" indica que no ano 2010 não existiria mais a ciência da informação ou bibliotecas; diz o autor que neste ano, passados 65 anos do paper de Bush, a maior parte da informação relevante existente já estaria em modo digital e acessada em rede com sua própria organização e controle.

Olhando para trás consigo ver parte de minha vida mesclada com a história da ciência da informação. Fui orientado por Jason Farradane, quando estudei na The City University da Inglaterra. Farradane , para melhorar o inglês, me levava as reuniões do Classification Research Group e para corrigir a entonação às coxias da Sinfonica de Londres onde ele tocava trompete por prazer; estive em uma das últimas Reuniões internacionais, em 1975, do Cranfielfd College,com Cyril Cleverdon e outras 400 personalidades internacionais da área discutindo por 10 dias, metalinguagens, recall e precision.

Eu vivi a área da ciência da informação em se fazendo e hoje já meio antigo posso ser considerado fonte de informação primária. Procurei repassar isso aos meus alunos e é no conhecimento e na lembrança deles que vivo com mais intensidade melhor e para mais tempo.

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* As Sete idades da Informação (em inglês).