09 julho 2007

Web 2.0 significa usar a inteligência coletiva

Por Christina Bergmann
em Deutsche Welle
4 julho 2007

Quando falamos em web 2.0, utilizamos um conceito definido por Tim O'Reilly. Em 2004, o fundador e presidente da editora que leva seu nome deu uma palestra com esse título, na qual discutiu o presente e o futuro da internet. O'Reilly vive e trabalha em Sebastopol, uma pequena cidade a cerca de 80 quilômetros de São Francisco, na Califórnia. Christina Bergmann o visitou para lhe perguntar sobre o futuro da rede mundial.


DW-WORLD.DE: Mr. O'Reilly, o que é exatamente a web 2.0?

Tim O'Reilly: Web 2.0 significa desenvolver aplicativos que utilizem a rede como uma plataforma. A regra principal é que esses aplicativos devem aprender com seus usuários, ou seja, tornar-se cada vez melhores conforme mais e mais gente os utiliza. Web 2.0 significa usar a inteligência coletiva.


Ou seja, quanto mais gente participar, melhor. Pode-se dizer então que a web 2.0 é uma internet democrática?

Creio que, em princípio, todos os novos mercados tecnológicos são democráticos e abertos. Por isso é que há sempre um grande alvoroço a respeito. Os obstáculos são pequenos, qualquer um pode participar. Mas, conforme o tempo passa, o poder se concentra nas mãos de alguns poucos. Na minha opinião, estamos atualmente nesta fase da internet. Sim, é tudo muito democrático, mas chama a atenção o fato de todos os start-ups interessantes não se tornarem independentes, e sim serem comprados por grandes empresas. Neste sistema, os ricos ficam cada vez mais ricos e cada vez menos democráticos.


Então estamos bem no meio da web 2.0. O que vem depois – a web 3.0?

O nome, naturalmente, pressupõe que depois venha a web 3.0. Mas não estou certo de que a nova onda de inovação tecnológica estará relacionada com a internet. Quando pensamos na maneira como lidamos com o computador, ainda pensamos em sentar à frente de um monitor e digitar coisas num teclado. Mas o computador ficará cada vez mais em segundo plano. A próxima e evidente mudança é que – como muitos já descreveram – equipamentos móveis e telefones celulares servirão de plataforma.

A isso, soma-se o fato de que o reconhecimento da fala se tornará cada vez melhor. Ou de que muitas câmeras fotográficas já vêm equipadas com sistemas de navegação. Ao tirar uma foto, o lugar é automaticamente integrado e passa a fazer parte das informações nela contidas, que você pode então transferir a uma aplicação web 2.0 como o flickr, por exemplo.

De repente, o cérebro global aprende algo que você nem tinha intencionado. A Microsoft apresentou um programa chamado Photosynt. Por enquanto, é apenas uma versão demo, mas este programa é capaz de desenvolver modelos tridimensionais de imagens digitais colocadas lado a lado. Se 10 mil pessoas fotografarem um motivo a partir de diversas perspectivas, todas elas serão então integradas.


Ou seja, algo é criado através de um trabalho comunitário?

Sim, mas as pessoas não sabem que estão criando algo. Elas apenas etiquetaram suas fotos e outra pessoa aproveita isso e junta tudo num modelo 3D. Estamos caminhando em direção à inteligência artificial. Embora ainda seja um ser humano que diga ao programa que operação executar. Mas o exemplo ilustra o que quer dizer inteligência coletiva. Inserimos cada vez mais dados na rede global e há gente que escreve programas para estabelecer novas conexões. É como se aumentassem as sinapses do cérebro coletivo. Acho que podemos esperar por surpresas.


Mas, se as pessoas não sabem o que acontece com seus dados, isso não afeta seu direito a uma esfera privada?

Na minha opinião, o futuro desenvolvimento da web 2.0 ainda trará muitas preocupações no que diz respeito à esfera privada. Mas é preciso entender que as pessoas estão dispostas a trocar sua esfera privada pelos benefícios que isso traz. A internet tem má fama no tangente à esfera privada, mas o que acontece quando você usa seu cartão de crédito? Você também fornece todos os seus dados pessoais e ninguém faz alarde a respeito.

Acredito até que bancos e operadoras de cartões de crédito desenvolverão aplicações de web 2.0. Aí eles poderão dizer quais são os estabelecimentos preferidos, assim como o Google hoje diz quais são as páginas de internet mais visitadas. Hoje eles já sabem, por exemplo, quando um novo restaurante é inaugurado em Berlim ou Bonn, que, no primeiro mês, mil pessoas pagam a conta com cartão de crédito, das quais 500 vieram uma segunda vez. Na web 2.0, esses dados serão então combinados em novas aplicações.


Não é assustador que todos esses dados de cartões de crédito, telefones celulares e da internet sejam combinados? Soa como um livro de George Orwell!

Eu fico dividido. Por um lado, estou muito consciente do aspecto orwelliano e da perda da proteção de dados. Mas também acredito que as pessoas aceitarão a troca. Elas dirão: é ótimo saber, como no nosso exemplo, se outras pessoas aprovam um determinado restaurante. Creio que os valores mudarão. Já é possível observar isso agora.


Quando você avalia que essas mudanças acontecerão?

Isso se dará de forma variada. Para algumas aplicações, levará meses, para outras, anos. Mas é importante reconhecer que não há caminho de volta.


Haverá então duas sociedades – uma com acesso à internet e outra que fica de fora?

Há sempre diferenças graduais no acesso à tecnologia. Quando o PC foi introduzido, havia um grande grupo que tinha e outro que não tinha. Com o tempo, cada vez mais pessoas adquiriram essa tecnologia. A internet se torna cada vez mais onipresente e será acessível pelo telefone e através de outros equipamentos, em versões mais simples. As informações contidas na internet serão acessíveis de diversas formas.

Nós achamos que há bilhões de computadores lá fora – mas isso é mentira. Na verdade, existe apenas um e é disso que se trata na web 2.0. Tudo será conectado com tudo. O que entendemos hoje por computador é, na verdade, apenas um equipamento de acesso ao cérebro eletrônico global que estamos criando.