17 outubro 2007

Em Moscou, as autoridades anunciam a abertura limitada dos arquivos stalinistas

Por Madeleine Vatel, tradução de Jean-Yves de Neufville
em Le Monde
12 julho 2007

O anúncio da abertura dos arquivos stalinistas deveria ter provocado a satisfação das famílias humilhadas por anos de repressão soviética. Além da esperança para os pesquisadores e os historiadores poderem trazer finalmente à luz todo esse passado doloroso. Aquele da coletivização forçada das aldeias no início dos anos 1930 e do gulag, os campos de concentração soviéticos onde teriam morrido entre 18 e 20 milhões de pessoas de 1929 a 1953 (o ano da morte de Stálin). Mas quem alimentou uma grande expectativa corre sérios riscos de ficar decepcionado.

Todos aqueles que sentem a necessidade disso poderão consultar os arquivos. Para tanto, eles só precisam redigir uma carta na qual deverá figurar a lista dos documentos aos quais eles gostariam de ter acesso; eles também devem explicitar com qual objetivo", anunciou Vassili Khristoforov, o responsável do fundo dos arquivos do FSB (ex-KGB).

Os procedimentos para aceder aos arquivos permanecem burocráticos e lentos. Apenas os descendentes das vítimas que poderão se identificar como tais terão o direito de pedir para consultar os documentos. Muitas famílias, cansadas de lutar pela reabilitação dos seus parentes e pelo reconhecimento de um prejuízo moral, há muito já perderam a paciência.

Algumas delas temem ver-se na situação de encarar uma recusa em razão da má-vontade de algum arquivista ou da noção, tão ampla quanto imprecisa, de "segredo de Estado" ou ainda de "segredo pessoal" que veta o acesso a certos documentos. Nenhuma informação relativa aos "informadores", aqueles vizinhos ou amigos que denunciaram os "inimigos do povo", enviando-os com isso para o gulag ou para a morte, será transmitida.

Os historiadores, por sua vez, só terão acesso a esses arquivos com a condição de apresentarem uma autorização dos descendentes, em documento autenticado por um tabelião. Esta providência obrigatória constituirá um obstáculo praticamente insuperável para todo pesquisador que quiser efetuar um trabalho de pesquisa global sobre o período o mais negro da história da União Soviética.

UMA OPORTUNIDADE PERDIDA

Com isso, o FSB aposta na lassitude e no desaparecimento progressivo das próprias vítimas. O ucasse (decreto) publicado pelo antigo presidente Boris Ieltsin, que havia autorizado a abertura ilimitada dos arquivos em 1991, foi revisto logo em 1995.

"No mais alto nível do Estado, estão criando um clima que não incentiva ninguém a voltar-se para o passado", declara Nikita Petrov, da associação Memorial, que luta pela reabilitação das vítimas do comunismo. "Assim, não é nenhuma surpresa constatar, depois disso, que muitos arquivistas se recusam a fornecer os documentos solicitados, e ainda que eles nem sequer tomem iniciativas no sentido de permitir a compreensão das diferentes facetas obscuras da nossa história".

De fato, os historiadores estimam que mais uma vez, foi desperdiçada uma oportunidade de se estudar seriamente os anos stalinianos.