08 outubro 2007

Mercado de livro de bolso avança no país

Por Marcos Strecker
em Folha Online
2 outubro 2007

Formato muitas vezes rejeitado e freqüentemente associado a edições de má qualidade, o livro de bolso está ganhando mais espaço nas livrarias e se firma no mercado brasileiro, mobilizando grandes editoras.

Quem entra agora no segmento é a Record, maior editora brasileira, que lança o selo BestBolso, com 24 títulos. Os lançamentos incluem um dos principais romances de Umberto Eco, "Baudolino", além de títulos conhecidos como "O Evangelho segundo o Filho", de Norman Mailer, "O Diário de Anne Frank", "A Queda", de Albert Camus, e títulos de autores conhecidos pelos best-sellers, como Frederick Forsyth ("O Negociador") e Graham Greene ("Fim de Caso").

A Record vai lançar uma média de cinco títulos mensais, cada um com tiragem de 6.000 exemplares. Além dos títulos de literatura internacional que começam a chegar às livrarias, a editora guardou para 2008 a edição de uma linha acadêmica e o lançamento dos títulos nacionais, que vai começar com "A Casa das Sete Mulheres", de Letícia Wierzchowzki.

Antes da Record, a Companhia das Letras vinha investindo no segmento desde maio de 2005, com sucesso. Sua linha de bolso já vendeu, até hoje, mais de 450 mil exemplares. As tiragens iniciais dos 57 títulos da linha pocket da Companhia têm entre 4.000 e 5.000 exemplares, com preços até 50% inferiores às brochuras. O recordista da coleção é "Além do Bem e do Mal", de Friedrich Nietzsche, que já vendeu em bolso 38 mil exemplares.

As duas editoras apostam num segmento em que a gaúcha L&PM se consolidou nos últimos anos, atraindo a atenção do mercado. Ivan Pinheiro Machado, editor da L&PM, conta que sua coleção conseguiu se firmar depois de 11 anos de investimento.

"A fama dos livros de bolso era de edições de terceira categoria, existia a idéia de apenas se aproveitar o fundo de catálogo. Penamos cinco anos, tivemos que enfrentar essa herança", afirma.

Hoje, a L&PM já tem 650 títulos em sua coleção pocket e acaba de lançar na Bienal Internacional do Livro do Rio, encerrada no último dia 23, o "Dicionário Caldas Aulete de Bolso", com 30 mil verbetes (1.072 págs., R$ 19,90).

O dicionário foi lançado em co-edição com a editora Lexikon, de Carlos Augusto Lacerda. A L&PM mantém ainda parceria com a Nova Fronteira, com quem co-edita coleção de livros da britânica Agatha Christie.

ALTERNATIVA

Diferentemente do momento atual, que é de aquecimento nas vendas de livros, a L&PM apostou no formato pocket em momento de dificuldade. "Em 1996, estávamos em crise, existia o assédio das estrangeiras, [o pocket] foi nossa única alternativa de sobrevivência. Ou saíamos da visão tradicional ou íamos quebrar", diz Machado.

O sucesso atual dos pocket entre as grandes editoras pode ser explicado por uma combinação entre investimento em qualidade (que ainda permanece como o grande desafio e o calcanhar-de-aquiles do segmento), preços acessíveis e aposta em pontos alternativos de venda.

De fato, ainda que as vendas pela internet estejam crescendo, o número de livrarias não se expande de forma significativa, ficando na faixa um pouco superior às 2.000 unidades. Machado, que não informa o número de vendas de sua editora, diz que 35% das vendas da L&PM Pocket são em pontos alternativos como supermercados e bancas de jornal, mas ainda aponta as livrarias como espaço fundamental ("o sucesso precisa ser comercial e editorial, mas também, principalmente, cultural"). A nova coleção da Record também pretende chegar aos supermercados.

Segundo a diretora editorial da Record, Luciana Villas-Boas, "o mercado está aquecido e existe uma nova demanda. Há uma camada de público mais sensível ao preço". Para ela, "o grande problema é que antes não se alcançavam os números necessários. O fundamental é a matemática".

A próxima grande editora a entrar no segmento pocket é a Objetiva, controlada pelo grupo espanhol Santillana. Ela acaba de anunciar a compra de 75% da Martin Claret, especializada em livros de bolso, que já tem canais de distribuição em todo o país.