08 outubro 2007

Sem verba, acervo de Jorge Amado corre risco de perecer

em Folha Online
30 setembro 2007

Mais de 250 mil documentos que retratam sete décadas de vida literária e política de Jorge Amado (1912-2001), um dos escritores brasileiros mais conhecidos e traduzidos no mundo, correm risco de deterioração. Entre as peças há manuscritos, cartas, edições dos primeiros livros, dissertações de mestrado, teses de doutorado, fotografias com personalidades e medalhas.

Em crise financeira, a Fundação Casa de Jorge Amado, que abriga o acervo do escritor, cortou o funcionamento do sistema de ar-condicionado, demitiu 50% dos seus funcionários e, a partir de amanhã, passa a adotar mais duas medidas de contenção de despesas -o horário de funcionamento ao público será das 13h às 19h (até sábado era das 10h às 18h) e o Café Teatro Zélia Gattai, também localizado no casarão, será fechado definitivamente."Estamos lutando muito para preservar esse patrimônio que não é da Bahia, é do mundo. Jorge Amado não merece isso", disse Myriam Fraga, diretora da fundação, inaugurada há 20 anos no largo do Pelourinho (centro histórico de Salvador).

De acordo com ela, até fevereiro último, o governo estadual repassava R$ 68 mil por mês à entidade. "A verba era empregada, basicamente, para pagar funcionários e os serviços de manutenção."Desde março, com a troca de governo e o fim do convênio, a Fundação Casa de Jorge Amado deixou de receber o repasse. "Aos poucos, fomos ficando asfixiados", disse Ticiano Martins, gerente administrativo e financeiro da fundação.

As medidas mais drásticas foram tomadas nas últimas semanas. "O ar-condicionado, que ficava ligado 24 horas por dia, deixou de funcionar. Agora, o acervo de Jorge Amado está mais sujeito às ações dos fungos e bactérias, o que é lamentável", afirmou Martins. "Nós também demitimos 12 funcionários e não há mais ninguém para fazer a manutenção das preciosidades deixadas ou recebidas por Jorge Amado.

"No mês passado, segundo Myriam Fraga, o governo estadual liberou uma verba emergencial de R$ 200 mil para os próximos seis meses. "Isto significa que vamos receber menos da metade do que recebíamos no governo passado. "O superintendente de patrimônio cultural da Secretaria da Cultura da Bahia, Paulo Henrique de Almeida, disse que a fundação é uma "âncora importante do Pelourinho", mas não pode depender apenas de verbas do governo estadual. "A fundação tem prestígio, o ministro da Cultura [Gilberto Gil] é baiano, o governo federal e a iniciativa privada também podem ajudar.

"Almeida disse também que a Constituição proíbe que os fundos de cultura repassem verbas às entidades para o pagamento de salários e encargos sociais. "Nós [o governo baiano] temos uma política melhor para a distribuição de recursos, a Fundação Casa de Jorge Amado precisa procurar outras fontes de renda porque não podemos e não vamos fornecer recursos de forma inconstitucional."